Tela do artista plástico moçambicano Antero Machado.

Tela do artista plástico moçambicano Antero Machado.

sábado, 28 de agosto de 2010

Medo!

Papo de buteco 1 - Psicologia de Buteco

Este texto vai para SCG que me fez umas perguntas.

Como todo buteco, o meu tem fregueses constantes, isolados, as vezes aos pares ou até em grupos.
Fregueses eventuais, ou se tornam efetivos ou passam de passagem, mas sempre alguém deixa alguma coisa no ar, para ser absorvida, digerida, processada e passam a fazer parte dos anais do buteco e da cabeça da gente.  Muita coisa do que eu sei hoje, aprendi com eles.
Entre os fregueses habituais, tinha um grupo que vinha religiosamente as quarta feiras.
Primeiro veio um casal, retornaram com alguns amigos e de retorno em retorno foram ficando e fazendo dali seu ponto de encontro semanal.
Sentavam-se sempre a mesma mesa, em um canto do bar próximo a uma grande janela lateral.
Acomodavam-se e invariavelmente traçavam longas conversas, discussões sem fim...
Passavam a noite ali.
Eu, servindo, enchendo e reenchendo os copos, escutava aqui e ali pedaços das conversas. O assunto era sempre o mesmo. O ser humano e as coisas que ele fazia.
Eu gosto desse grupo, as conversa são boas, animadas, aprendo muito com as discussões, embora tenha muita coisa que eles dizem que me deixam meio no ar.
Tem um, um tal de Lacan, que vive dizendo que o comportamento das pessoas é dado pelo que elas sonhavam a noite.
Pelo que eu entendi, o sonho é o que a pessoa queria que acontecesse na realidade, mas quando ele tenta por em pratica o sonho, a repressão da sociedade, as normas sociais, não o deixam realizar o sonho da forma que sonhou. Ele falava que o sonho era a realidade oculta.
Pelo que entendi, é igualzinho o que meu pai falava, diga-me com quem tu andas que te direi quem és. Quer dizer que o homem fica preso ao grupo que ele anda, que dita as normas de como ele deve viver. Deve ser muito chato esse negocio.
Eu amo o sono e o sonho. A minha vida tem tendência a tornar-se distante quando estou acordado, será por isso? Se ao menos pudéssemos escapar disso de estarmos sempre fazendo o papel de nós mesmos!
Quando ele começava a dizer todo esse lero-lero, logo alguém dava um aparte, quase sempre um tal de Jung, que logo vem dizendo que ele não pode pensar daquela forma, pois tudo depende de compreender as pessoas e depois interpretá-las.
Tem que escutá-las e depois tentar entender o que elas queriam dizer com aquilo.
- Conhecer um homem e conhecer o que tem dentro da cabeça são assuntos diferentes, falava ele.
Isso quase sempre me dá um nó na cabeça. Fico pensando:
- O que esse cara quer dizer com isso?  Quer dizer que a gente tem que aprender a escutar os outros?  Como deve ser difícil curar com conversa um mal, que a pessoa não sabe nos dizer o que é.  Fiquei fã desse cara.
Mas não deu nem um tempinho pra que eu pensasse muito nisso aquela hora, pois um outro, o Skinner já vinha logo dizendo que estavam todos errados e que as pessoas agiam da forma que tinham sido treinadas para agir, que era tudo treino, pode?  Gente parecendo rato?
Eu gostei bem mais dos apartes de um casal simpático, mais relaxado, sempre presente, que disse que o pessoal tava viajando nas idéias demais, que o homem tinha de ser analisado como um todo, corpo, espírito e mente.
Eles falaram numa tal de Gestalt, que direciona tudo pro aqui, agora. Não adianta pensar pra trás e nem pra frente, pois o que importa é a forma que você age agora.
São o Fritz e a Laura Perls. Gente fina. Um deles até soltou uma frase de efeito: - Não apresse o rio, ele corre sozinho....
O que será que eles quiseram dizer com isso?
Tem uma outra mulher, uma alemaozona, mas ela não entrou muito na discussão, não. Se não me engano, o nome dela é Melaine Klein.
Acho que ela não entrou muito nas discussões, pois alguém me disse que ela gosta de lidar é com crianças, e ela fala que entende os meninos de acordo com as brincadeiras que eles fazem.
Ela deve ser muito doidona. 
Onde já se viu analisar uma criança, e entender o comportamento dela, só observando o modo como ela brinca? Vocês acham que quando ela tá lá brincando, ela vai pensar no que a incomoda, no que vai na cabeçinha dela? Vai nada!
E eles passaram horas e horas discutindo este tema.
Eles falaram de ego, superego, realidade, figura fundo, um monte de coisa difíceis, tentando explicar como essas coisas funcionavam, e sempre tinha um que dizia que isso tudo isso era subjetivo...
Mas o freguês mais interessante desse grupo é um velhote, que fica sempre sentado num canto como se não os conhecesse, fumando tranquilamente seu charuto, inseparável, com ar de desinteressado, meio aéreo, parecendo até que não quer ser notado enquanto os outros falam.
Não diz uma palavra, só olha!
Nesse dia porem, a discussão corria solta, os ânimos estavam elevados, de repente, enquanto eu lhe servia uma coca, e como ele gosta de coca, o velhote se levanta e diz:
- Isso é tudo culpa da mãe!!!!
Eu acho que a gente aprende muito escutando as conversas nas mesas, mas esse papo do velhinho deste dia, confesso que não entendi ....
Pra que ele foi colocar a mãe no meio?
Preciso me lembrar do nome dele...
.

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