Tela do artista plástico moçambicano Antero Machado.

Tela do artista plástico moçambicano Antero Machado.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Papo de buteco 4 - Mineirim


Meu buteco recebe fregueses de todos os níveis, raças, credos, sexos(todos), nacionalidades, e também muita gente desse interiorzão das Minas Gerais que vem resolver suas "coisinhas" aqui na capital.
Não é que outro dia me aparece um capiau, mas um capiau capiau mesmo, daqueles que você só vê no Vale do Jequitinhonha, ou naqueles quadros em que ele ta sentado na porta da tapera pitando seu cigarrim de paia.
Ele apareceu, segurando três porquinhos no colo. Daqueles da raça Landrace, sabe? Daqueles rosadinhos, branquelos.
O capiau se assenta à mesa com os três leitõezinhos .
Pede uma media de café com leite e um pão de queijo.
Ao perceber a cena, um freguês carioca, como é de costume com esse povo que se acha muito exxxperto, quis logo tirar um sarro com a cara do mineirinho. 
Chegou perto dele, deu uma olhada em volta pra ver se tinha platéia, (eles normalmente são engraçadinhos com platéia) e já falou bem alto:
- E aí, mineiro, levando os porquinhos para passear ?
O mineirinho, meio ressabiado, responde:
- É sô, os bichim nunca vieram pra capitar, nué...
O carioca sorridente continuou:
- Estes bichinhos por acaso tem nome ?
O mineirinho deu logo sua resposta:
- Teeeem, sô ! Esse aqui chama "sua tia". O nome daquele é "sua avó"...
Mordido da vida, já prevendo o que vinha depois, o carioca querendo ser mais esperto interrompe logo o mineiro :
- Deixa que eu adivinho o nome deste último. É "sua mãe".
Criou-se grande expectativa no bar. Viraram-se todos para ver o desenrolar da história.
Aí já era demais, onde estava a esportiva do carioca?
Gozar a cara dos outros pode, mas ofender....
Mas o mineirinho nem deu bola e de pronto respondeu:
- Né não sô, esse é "seu pai"... "Sua mãe" eu comi onte!!!!
O buteco quase veio a baixo. O mineirinho e os seus leitõezinhos  a partir daí, foram tratados a pão de ló pelos outros fregueses.
Com essa tirada ele conquistou toda a mineirada presente.
Foi ficando por ali, cada hora era um que puxava um papinho, e o mineirinho já foi ficando mais a vontade.
Lá pelas tantas, no meio das conversas, ele solta que tinha vontade de conhecer biblicamente, algumas mulheres daqui da capital.  Bom, mulher no meu buteco é que não falta!
De repente, ele vê uma loiraça, daquelas de capa de revista, numa mesa próxima e se aproxima meio ressabiado, andando meio de lado...
Todo o bar ficou de olho.  O que é que esse caipira vai aprontar?
Ele  cumprimenta a loira e senta-se ao lado dela e já manda logo uma pergunta:
- "Quê qui ocê faz na vida?"
Ela de cara responde:
- Olha cara, não folga, eu já vou te avisando que eu sou lésbica.
O mineirinho ali parado, cara de sonso, sem saber o que era isso, e pergunta:
- Moça, o que é ser lésbica?
E ela, até mesmo sendo bem paciente, responde:
- Olha cara, eu acordo pensando em mulher, passo o dia pensando em mulher e durmo pensando em mulher.
Ele ficou em silêncio, o buteco todo também...
Aí  a mulher perguntou pro mineirinho:
- E você, o que faz na vida?
Fez-se um silencio sepulcral, ele parou, coçou a cabeça, matutou, matutou, olhou bem pra ela e disse:
- Uai, moça! Inté gorinha mesme eu pensava quiéra vaquêro, mass despois di tudo qui ôcê falô... eu to achano quieu tomém... sô lésbica!!!!

Depois dessa foi difícil segurar a clientela, foi um aplauso estrondoso pro mineirinho, todos querendo pagar uma cervejinha pra ele. Sabem como é,  fica todo mundo no buteco esperando um motivo pra comemorar. A folia reinou madrugada a dentro.
Se eu gostei?
Adorei, quem me dera se viesse todo dia um caboclinho esperto que nem esse pra animar a freguesia, terminei a noite sem uma cerveja gelada no freezer.
Beberam todo meu estoque.
Tambem pudera!!!!
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