Tela do artista plástico moçambicano Antero Machado.

Tela do artista plástico moçambicano Antero Machado.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Juventude digital.

Quando minhas filhas eram pequenas, tinha a preocupação de não criar "meninas de granja", iguais aqueles frangos branquelos e sem sabor. Criança não pode viver trancada em apartamento. Tem de saber que o leite não vem da caixa e nem o frango é fabricado pelado em pacotes congelados. Tem de brincar com terra, ver e viver o mundo ao redor. Adiquirir resistencia para viver no mundo real. Tem que apreciar e absorver a beleza da natureza, para dela usufruir e saber respeita-la. Tem de conviver e brincar com outras crianças com liberdade, para aprender a convivencia em sociedade. Hoje estamos estamos correndo o perigo de criarmos "crianças digitais", vivendo em um mundo irreal, como bem exemplifica João Montanaro nessa charge. É engraçado, mas é um caso a se pensar...



Monólogo !



Olha, desta vez você passou das medidas. Só não boto você para fora, agora, porque é a sua cara dar escândalo.
Estou cheia de você atrás de mim o tempo todo. Fica se fazendo de fofa, enquanto, pelas minhas costas, chama a atenção de todo mundo para meus defeitos.
Você está redondamente enganada se pensa que eu vou me rebaixar ao seu nível – o que vem de baixo não me atinge. Mas faço questão de desancar essa sua pose empinada. Por que nunca encara as coisas de frente? Fica parecendo que tem algo a esconder. Por acaso, faz alguma coisa que ninguém pode saber?
Você é, e sempre foi, um peso na minha existência – cada papel que me fez passar... Diz-se sensível e profunda, mas está sempre voltada para aquilo que já aconteceu. Tenho vergonha de apresentar você às pessoas, sabia? O que há por trás de todo esse seu silêncio? Você diz que está dividida e que eu preciso ver os dois lados da questão. Ora, seja mais firme, deixe de balançar nas suas posições.
Longe de mim querer me meter na sua vida privada, mas a impressão que dá é que você não se enxerga. Porque está longe de ter nascido virada para a lua e costuma se comportar como se fosse o centro das atenções. Você mora de fundos, num lugar abafado. Nunca sai para dar uma volta, nunca toma um sol, nunca respira um ar puro. Vive enfurnada, sem o mínimo contato com a natureza. O máximo que se permite é aparecer numa praia de vez em quando, toda branquela. 
Não é de admirar que esteja sempre por baixo. Tentei levar você para fazer ginástica, querendo deixar você mais para cima, mas fingiu que não escutou. Saiba que você não é mais aquela, diria até que anda meio caída. E vai ter que rebolar para mexer comigo, de novo, da maneira que mexia. Lembro do tempo em que eu, desbundada, sonhava em ter um pouquinho mais de você. Agora, acho que o que temos já está de bom tamanho. E, pensando bem, é melhor pararmos por aqui antes que uma de nós acabe machucada.
Sei que qualquer coisinha deixa você balançada, então não vou expor suas duas faces em público. Mas fique sabendo que, se você continuar a aparecer, constrangendo-me diante de outras pessoas, levarei seu caso ao Pitangui.  Lamento, isso dói mais em mim do que em você, mas você merece o chute que estou lhe dando. Estou duplamente decepcionada com você... bunda!
Texto de Priscila A.V.Rocha

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