Tela do artista plástico moçambicano Antero Machado.

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sexta-feira, 24 de junho de 2011

Delícias da minha juventude! II - Ano 67


Estávamos nos últimos meses de 1967 e o Guilherme ( aquele do violão do "Delicias da minha juventude") estudava Física na Universidade Federal.de Minas Gerais.
Nesta mesma época foi também inaugurado o CEU, Centro Esportivo Universitário, logo ali ao lado do Mineirão. Um centro de esportes com todas as modalidades olímpicas.
Somente poderiam frequentá-lo os alunos da Federal.
Como tínhamos o nosso conjunto vocal, éramos o arroz doce de todas as festas da turma da Física e foi fácil arrumarem uma carteirinha no DCE em meu nome, a qual me daria ingresso ao Céu. Coisa de jovens deliciosamente trambiqueiros. 
Esse acesso precoce ao meio universitário teve grande influencia na minha formação como homem e como bicho social. 
Com o acesso garantido, eu não saia mais de lá. Virei universitário, estudante de Física, aos 17 anos. Bom, pelo menos a atividade física era quase diária, né? 
Atividades anaeróbicas e orgásticas. Mens sana in corpore sano.
Naquela época, estava no auge a tese do amor livre e toda menina que queria se dizer moderninha aderiu. O tabu da virgindade começou a ser encarado como se hoje quem o defendesse fosse a favor do desmatamento. O termo ainda não existia, mas virou politicamente correto perder a virgindade. 
Era um tempo de novas descobertas para os jovens de ambos o sexos.
Nós, os homens, já vinhamos perdendo nossa virgindade na Zona Boemia, nas “casas da luz vermelha” ou então com as gentis domesticas, que nos favoreciam nas esquinas, escadas e garagens dos predios,  apenas por amor. 
Era tambem a oportunidade que elas tinham de transar com um garotão Zona Sul, que naqueles instantes lhe fazia juras de amor eterno. A gente fingia um flerte e elas fingiam que acreditavam. Este era o costume da época.
Aos homens tudo, às mulheres o recato. Éramos incentivados a sermos garanhões e predadores. Elas, mães de família cercadas da prole.
Com as garotas já era bem diferente. Com a educação ainda nos moldes dos anos 50, morriam de medo de serem “faladas” e não conseguirem mais casar. 
Com o advento da minissaia elas se tornaram mais sexys e logicamente começaram a aprender a lidar com essa sexualidade mais exposta. Elas foram tomando mais consciência do poder que exerciam nos homens. Com o aparecimento logo em seguida da pílula anticoncepcional a maior barreira passou a ser a discrição. 
Elas não queriam ser chamadas de “fáceis’, “galinhas”.
Pra transar tinha que namorar, e muito. 
A vida de garanhão não era nada tranquila e muitas vezes ainda saiamos da casa de nossas namoradas e íamos encerrar a noite com as meninas de “vida fácil”. 
Era uma fase de transição.
Os homens excitados pela facilidade da pílula, que os livrava de uma paternidade indesejada e as garotas ainda receosas do que “os outros iam pensar”. 
Naquele tempo, o uso de camisinha era considerado ate um desrespeito, pois demonstrava que você tinha medo de pegar alguma DST com  a garota. Mas como? Ela eram virgens, não eram? Isso mesmo, camisinha só era usada com uma grande desconfiança de doença. 
Nem na zona as usávamos.
Namorávamos inicialmente só de mãos dadas e as vezes demorávamos de três a quatro encontros para trocarmos o primeiro beijo. As garotas se preservavam. 
Elas ainda viviam numa estrutura que as obrigava, vinda do final dos anos 50 e inicio dos 60, a se submeterem a casamentos, nem sempre convictos, mais com o objetivo de saírem da casa dos pais. Saírem daquele circulo social que ainda as oprimia. 
Naquele tempo ainda era através do casamento que elas conseguiam esse intento. Serem seres dotados de sexualidade e donas do próprio nariz.
Mas as garotas dessa geração estava disposta a mudar este processo. Elas intuitivamente sabiam o que queriam. A mudança era inevitável!
Elas sabiam ( a mulher sempre sabe) que os homens ainda não tinham um preparo (nem sei se hoje já tem)  para encararem essa mudança numa boa. 
Eles precisavam amadurecer.
Eles ainda classificavam as garotas em garotas “pra sair” e garotas “para casar”. 
Outro dia assisti horrorizado na TV um rapazinho do século XXI falando isso: “Aquela é pra casar! Foram anos de luta e evolução social para chegarmos aos dias de hoje e ainda escutarmos isso saido da boca de um Emo?
Bom, mas voltando no tempo...
Nessa época ocorreu o nascimento cultural da "nossa" sexualidade, a sexualidade dissociou-se do sexo com fins reprodutivos. 
Esta divisão foi tão completa que no final dos anos 60 começou-se a acreditar que as duas não tinham absolutamente nada a ver uma com a outra. 
Esta revolução sexual se iniciou com o questionamento dos modelos morais vigentes e da "da família feliz" como fonte de opressão e de descontentamento. 
Esse questionamento foi estimulado pela introdução da pílula que, por um lado permitiu que as mulheres, pela primeira vez na história, pudessem impedir a gravidez com um grau de confiabilidade sem precedentes.  Isso as tornou mais livres mas, por outro lado, a pílula contribuiu para colocar, sobretudo mulheres jovens, numa grande tensão para não se sentissem constrangidas face ao ato sexual. 
Não havia mais desculpa para não pô-lo em pratica. E como isso pesou.
Não pensem que essa transição foi difícil somente do lado feminino. Ela foi extremamente difícil também para nos homens.
Estávamos acostumados com as profissionais do sexo. Não tínhamos preparo para nos relacionarmos sexualmente com nossas namoradas. E elas queriam!
Nós as respeitávamos muito mais do que elas queriam e achávamos que com elas não poderíamos agir como agíamos com as “mulheres da vida”.  Ficávamos cheios de dedos sem saber como agir com aquela sexualidade transbordante e excitante. 
Em matéria de sexo, pelo lado masculino, não estávamos acostumados a envolver sentimentos. Sexo era só sexo. Mas agora um nova forma de sexo se apresentava.
Essas novas garotas estavam nos ensinando uma forma, também nova, de lidar com a sexualidade.  Tudo era experimental. Ocorreram muitos excessos, lógico, mas éramos puros e ingênuos e nos entregamos plenos aos experimentos. 
Alguns aprenderam!  Elas é que transformaram o mundo!
Essa fase de transição social, de costumes e valores, eu passei, menino ainda, junto a garotas universitárias, de vanguarda. Como me ensinaram! E como eu aprendi. 
As mudanças começaram com o sexo. Tudo o mais nasceu na luta contra a autoridade e aos valores sociais e morais estabelecidos.
Lia-se Reich, Simone de Beauvoir, Marcuse e os fundamentos da contracultura, a chamada geração Beatnik e o rock,  fenômenos dos anos 50 nos Estados Unidos, já batiam as nossas portas.  As filosofias orientais eram assunto das rodas de boteco.
Cresci muito nessa epoca como pessoa, intelectual e socialmente.
Tudo isso por causa daquele trambique da carteirinha, levado a cabo pelos relacionamentos feitos nas rodas de viola.

Depois eu conto mais destas minhas ruminancias procês.....


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