Tela do artista plástico moçambicano Antero Machado.

Tela do artista plástico moçambicano Antero Machado.

domingo, 3 de outubro de 2010

Papo de buteco 11- No avião

Tudo correndo às mil maravilhas no buteco, por volta de nove horas da noite, aquela hora em que, apos o happy hour, as pessoas estão em casa se aprontando pra sair, correr a balada, ir a um cinema ou teatro, e por volta de onze meia a meia noite começam a chegar para jantar ou tomar um drinque, acompanhado é claro de um bom papo. Isso não falta aqui no buteco.
Nessa hora, o pessoal de serviço aproveita os momentos de folga para fazer suas refeições, fumar um cigarrinho ou simplesmente jogar conversa fora.
Estava eu ali tranqüilo, quando vejo parar a porta do buteco um taxi, não dos amarelos comuns, mas daqueles taxis executivos do aeroporto.
Dele desce um homem elegante, cliente habitual, e logo depois, uma loura de seus 35 a 38 anos, belíssima.
Tudo em cima, pernas longas, bumbum arrebitado, air bag proporcional ao painel, cabelos castanhos claros, sedosos, brilhantes, soltos em cascata sobre ombros retos, pescoço longilíneo, firme,  pele de pessego, sem uma mancha, e um rosto de parar o transito de qualquer avenida.
Ela me lembrou aquela artista de cinema, aquela que fez mulher gato, acho que o nome dela é Michelle Pffifer, mas não lembro bem o sobrenome.
Olhos verdes parecendo duas esmeraldas, cílios negros enormes.
Pediram uma mesa em local mais reservado, e de cara um champanhe e um caviar beluga com torradinhas especiais.
O homem ia muito no buteco, a mulher dele eu nunca vira...champanhe, caviar...sei não.... Mulher dele não é, pensei logo comigo, esses caras não fazem bonito para o artigo caseiro, essa deve ser especial, artigo de exportação.
A gente aprende a ver logo essas coisas, se fosse a mulher dele, era uma cerveja, uma linguicinha e olhe lá!  Vê lá se ele ficava assim todo hem heh hem com a mulher dele! 
Esses caras são assim, pras de fora, filé, pras de casa....
Os dois ali, em conversa baixa, sussurros, sorrisos, leves toques....estavam se conhecendo!
Eu não conseguia tirar os olhos daquela mulher. Uma das maiores belezas que eu já vi. 
Como esse cara conseguiu esse mulherão?
Em dado momento ela se levanta, e vai ao toilette.
Não agüentei, corri a mesa e perguntei de cara ao meu cliente:
-Rapaz, o que é isso tudo? Onde arrumou esse avião?
Ele sorrindo, me respondeu:
- No avião!
- No avião, como?
Ele, homem bem apanhado, elegante, 40 anos, executivo de multinacional, continua a falar:
- É, no avião, sentei- me na poltrona do corredor no vôo New York/BHte  e me maravilhei com essa deusa sentada ao meu lado junto à janela.
Ele disse que após 15 minutos de vôo, não se conteve mais e entabula uma conversa:
- É a 1ª vez que vai a Beagá?
- Não, respondeu ela - é uma viagem habitual.
- Trabalha com moda?
- Não, viajo o mundo todo em função de minhas pesquisas. Sou sexóloga.
- Sexóloga? Que interessante...  e suas pesquisas dedicam-se a quê?
- No momento, pesquiso as características do membro masculino nas diferentes raças e culturas.
Ele estranhou, mas macaco velho, manteve a calma e continuou a conversa:
- Hum...excêntrico! E a que conclusão chegou?
- Bem, que os índios são os portadores de membros com as dimensões mais avantajadas...
- É mesmo?
- E os árabes são os que permanecem mais tempo no coito.  Logo, são eles que proporcionam mais completo prazer às suas parceiras.
Com essas respostas, ele fica pensativo, mas logo ela continua a conversa:
- Desculpe-me Senhor, eu estou aqui falando tanto e ainda não sei o seu nome!
E ele mais que depressa, na lata :
- Salim Mohammed Pataxó!!!!

Agora eu entendi...  por isso ela esta aqui com ele.....é a expectativa.
E a expectativa faz coisas do arco da velha!
.
Imagem da net

Sapato velho.

Hoje me peguei nostálgico, fiz o que a muito não fazia, ficar de papo pro ar olhando pro tempo, pensando na morte da bezerra, isto é, em nada.  
Nem mesmo quis ler um bom livro, habito de uma vida. 
Deitado na rede, à varanda, comecei a cantarolar uma musica, que uma amiga outro dia me fez lembrar...   Interessante como o tempo passa e a gente se esquece das coisas que à época nos pareciam inesquecíveis.
Lembrei-me de um tempo em que, essas musicas me levavam a lugares inimagináveis, me abriam portas, me apresentavam à vida.
O Rock sempre foi uma doideira, agito, sensações a flor da pele. Me lembro dele sempre assim.
Essas musicas que lembramos, nesse dia, são musicas da época em que musica tinha musicalidade, harmonia, letra...    E os cantores tinha voz.
E a gente dançava de corpos e rosto colados....   No maior chamego!
Lembrei-me também que em minha terra tem muita quermesse, e nessas quermesses sempre tem um autofalante tocando musicas, e de vez em quando o locutor, com aquela voz empostada das antigas FM, sempre dedicava uma musica a alguma pessoa a pedidos: 
- "Augusto Ceesrrrr dedica essa canção a Cleuza Mariaaaa, com os votos de que seu amor seja infinito enquanto duuure!"
Me deu vontade de fazer isso aqui nesse buteco!

Essa musica eu dedico a alguém, e esse alguém sabe a quem....

Interpretes: Roupa Nova
"Sapato Velho" - (Mú/Cláudio Nucci/Paulinho Tapajós)
 
Sapato velho

Você lembra, lembra,
daquele tempo, eu tinha
estrelas nos olhos
um jeito de herói.
Era mais forte e veloz
que qualquer mocinho de cowboy...

Você lembra, lembra,
eu costumava andar
bem mais de mil léguas,
prá poder buscar
flores-de-maio azuis
  e os seus cabelos enfeitar...

Água da fonte cansei de beber
prá não envelhecer,
como quisesse roubar da manhã
um lindo pôr-de-sol...
Hoje não colho mais as flores-de-maio,
nem sou mais veloz, como os heróis...

É! Talvez eu seja, simplesmente
como um sapato velho...
Mas, ainda sirvo se você quiser...
Basta você me calçar,
que eu aqueço o frio dos seus pés...

 

Musica e letra cedidas gentilmente por http://cult-space.blogspot.com/


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