Tela do artista plástico moçambicano Antero Machado.

Tela do artista plástico moçambicano Antero Machado.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Drummond erótico 6

Este ultimo poema, A moça mostrava a coxa, encerra a série de postagens sobre a fase erótica de Drummond
O Amor Natural revelou as poesias eróticas, quase pornográficas que Drummond manteve ocultas até a sua morte. Alguns poucos amigos seus talvez as conheciam.
Suas poesias obscenas ou eróticas são encontradas em qualquer um de seus livros, desde "Alguma Poesia" até "Farewell"
Este livro é apresentado despido de pudores poéticos e se inscreve dentro de uma tradição filosófica e poética do erotismo e da obscenidade. É o poeta gauche que foi nos apresentando novamente o mundo que via, com suas mudanças e transformações.
Drummond é, sobretudo, um poeta de seu tempo que, guiado por seu anjo torto, nos mostrou o mundo em suas constantes revoluções.
O poeta viu passar diante de seus olhos uma revolução sexual nos anos 70, com livros de Bataille e Rougemont, disparates da poesia marginal, e assim pode desmascarar seus recalques e verbalizar o que sentia.
Salienta-se ainda o trabalho de composição de palavras por justaposição e aglutinação que vão construir termos perfeitos para descrever as relações sexuais e a anatomia: lambilonga, lambilenta, licorina, lenta-lambente-lambilusamente, bundamel, bundacor, bundamor, boquilíngua, clitórida. E ainda as tradicionais repetições de palavras e de estruturas sintáticas.
As vaginas, pênis e clitóris que saíram de sua boca chocaram porque são explícitos, mas podemos observar que não são termos populares, vulgares ou chulos.
O poeta, ao escrever suas poesias eróticas não é baixo, pornográfico, no sentido pejorativo, pelo contrário, assume uma linguagem elevada para tratar de um tema tido como baixo. Sua obra poética, toda sua poesia é selada com chave de ouro: com o amor, mas mais que isso: com um amor isento de limites e recalques, um Amor natural 



A moça mostrava a coxa

A moça mostrava a coxa,

a moça mostrava a nádega,
só não mostrava aquilo
- concha, berilo, esmeralda -
que se entreabre, quatrifólio,
e encerrra o gozo mais lauto,
aquela zona hiperbórea,
misto de mel e de asfalto,
porta hermética nos gonzos
de zonzos sentidos presos,
ara sem sangue de ofícios,
a moça não me mostrava.
E torturando-me, e virgem
no desvairado recato
que sucedia de chofre
á visão dos seios claros,
qual pulcra rosa preta
como que se enovelava,
crespa, intata, inacessível,
abre-que-fecha-que-foge,
e a fêmea, rindo, negava
o que eu tanto lhe pedia,
o que devia ser dado
e mais que dado, comido.
Ai, que a moça me matava
tornando-me assim a vida
esperança consumida
no que, sombrio, faiscava.
Roçava-lhe a perna. Os dedos
descobriam-lhe segredos
lentos, curvos, animais,
porém o maximo arcano,
o todo esquivo, noturno,
a tríplice chave de urna,
essa a louca sonegava,
não me daria nem nada.
Antes nunca me acenasse.
Viver não tinha propósito,
andar perdera o sentido,
o tempo não desatava
nem vinha a morte render-me
ao luzir da estrela-dalva,
que nessa hora já primeira,
violento, subia o enjoo
de fera presa no Zôo.
Como lhe sabia a pele,
em seu côncavo e convexo,
em seu poro, em seu dourado
pêlo de ventre! mas sexo
era segredo de Estado.
Como a carne lhe sabia
a campo frio, orvalhado,
onde uma cobra desperta
vai traçando seu desenho
num frêmito, lado a lado!
Mas que perfume teria
a gruta invisa? que visgo,
que estreitura, que doçume,
que linha prístina, pura,
me chamava, me fugia?
Tudo a bela me ofertava,
e que eu beijasse ou mordesse,
fizesse sangue: fazia.
Mas seu púbis recusava.
Na noite acesa, no dia,
sua coxa se cerrava.
Na praia, na ventania,
quando mais eu insistia,
sua coxa se apertava.
Na mais erma hospedaria
fechada por dentro a aldrava,
sua coxa se selava,
se encerrava, se salvava,
e quem disse que eu podia
fazer dela minha escrava?
De tanto esperar, porfia
sem vislumbre de vitória,
já seu corpo se delia,
já se empana sua glória,
já sou diverso daquele
que por dentro se rasgava,
e não sei agora ao certo
se minha sede mais brava
era nela que pousava.
Outras fontes, outras fomes,
outros flancos: vasto mundo,
e o esquecimento no fundo.
Talvez que a moça hoje em dia...
Talvez. O certo é que nunca.
E se tanto se furtara
com tais fugas e arabescos
e tão surda teimosia,
por que hoje se abriria?
Por que viria ofertar-me
quando a noite já vai fria,
sua nívea rosa preta
nunca por mim visitada,
inacessível naveta?
Ou nem teria naveta...


http://www.memoriaviva.com.br/drummond


segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Papo de Buteco 2 - Broxa

Fui obrigado a postar novamente por problemas que ainda não descobri a origem.  O post some apos publicado.

O cara chegou no buteco, noite alta, sentou-se em frente ao balcão e pediu uma cerveja.
Serio, cara de pensativo, ausente a tudo que acontecia a sua volta.
Pensei comigo: - Aí tem coisa...
Ficou no balcão um pouco, depois sentou-se em uma mesa a um canto, ainda sem um olhar a sua volta, não buscava estabelecer contato com ninguém.
Como sempre faço, com todos os fregueses, fui lhe oferecer uns petiscos para tira gosto.
Aquele agradinho de dono de buteco, que sabe que freguês bem tratado é o freguês que volta. Como ele estava e permanecia sozinho, tentei puxar uma conversa.
Interessante como a gente nota, feeling de dono de buteco, o cara estava para explodir.
Foi só dar uma trela que ele já soltou:
- Cara, tou broxa!
Tomei um susto danado, mas a minha cara ficou impassível, não podia demonstrar espanto, pois o cara podia voltar a se fechar.
Aí eu disse: - Que isso cara, você novo desse jeito. Isso deve ser tensão, stress, logo passa. Uma broxada todo mundo dá na vida.
- É mas o que eu digo pra minha mulher? Eu tou aqui tomando uma, pois se eu for pra casa agora, ela vai querer e eu não vou dar no couro. O bicho ta de cabeça baixa.
Esse é um fato bem interessante. Se tem uma coisa que homem não consegue esconder é a falta de tesão. E quando ela baixa, sai de baixo!
Tem muita coisa que impede o cara de ter tesão, desejo sexual.
Pode ser um desejo não realizado, o chefe pegando no pé, a empresa fazendo programa de demissão, o mês ficando maior que o salário ou simplesmente cansaço. Tudo isso é altamente broxante!
-Bom, porque você não fala pra ela, aí dá um tempinho e tudo volta ao normal.
E qual homem que você conhece que tem a macheza suficiente pra agüentar essa parada? Homem é bicho orgulhoso e burro! E burro quando empaca.... Contar pra mulher? O cara prefere a morte!
Você acha que um homem tem a capacidade de explicar essa situação para a sua mulher? Nem morto!
- Amor, meu pinto não sobe porque meu chefe ta pegando no meu pé e eu tou com medo danado de perder o emprego. Deixa a situação acalmar que a gente volta a transar, ta bom meu benzinho?
Só no dia de São Nunca. Nunquinhas!!!
Bom, vocês também conhecem o bicho mulher, né?
Qual mulher vai acreditar nessa historia? A primeira coisa que elas pensam, é que se o cara tá com a bandeira a meio pau, é porque andou balançando ela fora de casa. É ou não é?
As vezes o cara tá falido, vendendo o almoço pra comprar a janta, broxa, e já vem a mulher:
- Quem é essa vagaba? Se te pego com outra te capo!!!
Uiiii!!!! O cara não tem grana nem pro motel, como vai sair com outra?
- Safado, bandido, cafajeste, você gastou nosso dinheiro com as piranha?
Se por um acaso ela é uma mulher mais compreensiva, mais esclarecida, ela propõe procurarem um psicólogo, uma terapia:
- Cê ta maluca mulher? Isso é coisa pra louco, eu tou é broxa!
Homem é tão ignorante que ate prefere viver o resto da vida de pinto murcho e ser chamado de broxa a encarar um tratamento, que pra ele é de doido!
Mas também ficar inventando desculpas, não dá.
Não adianta beber no buteco e voltar bêbado pra casa.
Não adianta fazer serão no trabalho, chegar em casa cansado e fingir que ta dormindo quando a patroa vem roçando os pezinhos querendo um chamego.
Não adianta dizer que você agora é adepto do sexo tântrico, da meditação transcendental, alegando que é para tentar melhorar a relação, e assim fugir do vão ver.
Não adianta dizer que agora vocês vão ficar somente nas preliminares, preocupado só com o prazer dela, para pagar em penitência, todos os anos de secura em que você a deixou.
Tem de botar o bicho na casinha, senão ela não se aquieta!
Senão, um dia ela cansa, e quando mulher cansa, ela começa a perceber que existem outros homens no mundo, e aí cara, pode começar a crescer uns acessórios na sua testa. É batata!
Bom, voltando á vaca fria, o nosso amigo do buteco, após debatermos todas essas hipóteses, ficava cada hora mais macambúzio, mais sorumbático.
Aí eu tive uma idéia genial:
- Cara, você é meio machão e não gosta da hipótese de discutir o assunto com ela e não quer saber de terapia. Só tem uma solução. Arrume uma amante!
- Mas como, se eu tou broxa?
- Não cara, ponha umas marcas de batom no colarinho, respingue um perfume da Avon, e se quiser mais drama ainda, se arranhe no pescoço com as unhas, dê umas mordidas no braço e ponha batom também na cueca. Ela vai achar que você transou com uma devassa!!!! Muito sexo selvagem!
- Peraí, mas aí eu perco a mulher!
Ao que eu respondi de pronto:
- Você pode até perder a mulher, mas vai pegar a fama de um baita garanhão!!
È, por isso que os caras vem sempre aqui, no buteco a gente sempre acha uma solução... .
.
Baseado em texto recebido por e-mail, sem autoria
Imagem: LFCR
.
4 Já deram um pitaco.:

Guará Matos disse...
Se fode, mas não perde a majestade. Mesmo sendo Rei um tremendo broxa, hahahahaha! É duro.... Ou melhor, é mole! Abraços.

José disse...
O dono do buteco,é meio psicólogo, os fregueses quando já estão com os copos,começam a falar das agruras da vida, e eles têm à força arranjar uma solução, para cada caso. Bom texto. abraço, José.

LUFE disse...
Guará, Tá pra nascer o homem que admite isso....rsrs abço

LUFE disse...
José, Quem frequenta um buteco, sabe que no fim de noite sempre rolam estas terapias de botequim... E sempre com as soluções mais inusitadas...rs
um grande abraço.
.

Drummond erótico 5


Resolvi repostar pois a Ana e a Sil  me disseram que esta postagem sumiu.....


Sob o chuveiro amar

Sob o chuveiro amar, sabão e beijos,
ou na banheira amar, de água vestidos,
amor escorregante, foge, prende-se,
torna a fugir, água nos olhos, bocas,
dança, navegação, mergulho, chuva,
essa espuma nos ventres, a brancura
triangular do sexo -- é água, esperma,
é amor se esvaindo, ou nos tornamos fontes?

* * *

Sugar e ser sugado pelo amor

Sugar e ser sugado pelo amor
no mesmo instante boca milvalente
o corpo dois em um o gozo pleno
que não pertence a mim nem te pertence
um gozo de fusão difusa transfusão
o lamber o chupar e ser chupado
no mesmo espasmo
é tudo boca boca boca boca
sessenta e nove vezes boquilíngua

* * * 

Para o sexo a expirar

Para o sexo a expirar, eu me volto, expirante.
Raiz de minha vida, em ti me enredo e afundo.
Amor, amor, amor - o braseiro radiante
que me dá, pelo orgasmo, a explicação do mundo.

Pobre carne senil, vibrando insatisfeita,
a minha se rebela ante a morte anunciada.
Quero sempre invadir essa vereda estreita
onde o gozo maior me propicia a amada.

Amanhã, nunca mais. Hoje mesmo, quem sabe?
enregela-se o nervo, esvai-se-me o prazer
antes que, deliciosa, a exploração acabe.

Pois que o espasmo coroe o instante do meu termo,
e assim possa eu partir, em plenitude o ser,
de sêmen aljofrando o irreparável ermo. 

Carlos Drummond de Andrade 

Imagem capturada na internet


12 Já deram um pitaco.:

Lu Menezes disse...
Erótico??!!!
Afrodisíaco você quer dizer, né?!
Beijo.

Franck disse...
Drummond, água, amor, orgasmo...estamos começando bem o domingo! Abçs!

Sil.. disse...
Lufe, pelamorrrrrrrrrrrrrrrr...tenha misericórdia de mim.
Será que sobreviverei a todos os posts "Drummond Erótico"???

Lu, concordo contigo:(E acrescento)
Erótico, afrodisiaco, orgasmático e dai vai...

(Respiraaaaaaaaaaaaaaaaaa Silvia rs)

Lady disse...
respirando fuuuuuuuuundo....

LUFE disse...
Lu,
É um elixir do amor
bjo

LUFE disse...
Franck
Drummond nos desperta, nos instiga...
abço

LUFE disse...
Sil,
Um copinho d'agua pra acalmar?....rsrs
bjo

Ro Druhens disse...
Vc conhece os poemas eróticos do Darcy Ribeiro, que compõem o livro Eros e Tanatos (Ed. Record)?
Uma beijoca da
Ro

LUFE disse...
Ro,
Não conheço...
Obrigado pela dica, vou conhecer.
bjo

Ana Cavalcantti disse...
Oi !!!!!!!
Bom diaaaaaaaaa !!!!!!
Meninoooo, vc está querenco causar dependencia física para voltarmos ao seu Buteco ? rsrs
Eitaaaaaaaaaaa !!!!!!!
Começando pela foto né...que já abre nssa imaginação hahahaha !!!!
Beijoooos

LUFE disse...
Aninha, querida
Dependencia fisica, mental e visual.....rs
É um deleite.
bjos

Lily disse...
Gosto de passar aqui, Lufe.

Nem que seja só para dizer "olá"!

Ou para ler, ou para experimentar uma bebida nova ou comer um pedaço de queijo canastra. Ah!, nem me fale de queijo de Minas, coxinha de galinha... morro de saudades.

Boa noite!

sábado, 28 de agosto de 2010

Medo!

Papo de buteco 1 - Psicologia de Buteco

Este texto vai para SCG que me fez umas perguntas.

Como todo buteco, o meu tem fregueses constantes, isolados, as vezes aos pares ou até em grupos.
Fregueses eventuais, ou se tornam efetivos ou passam de passagem, mas sempre alguém deixa alguma coisa no ar, para ser absorvida, digerida, processada e passam a fazer parte dos anais do buteco e da cabeça da gente.  Muita coisa do que eu sei hoje, aprendi com eles.
Entre os fregueses habituais, tinha um grupo que vinha religiosamente as quarta feiras.
Primeiro veio um casal, retornaram com alguns amigos e de retorno em retorno foram ficando e fazendo dali seu ponto de encontro semanal.
Sentavam-se sempre a mesma mesa, em um canto do bar próximo a uma grande janela lateral.
Acomodavam-se e invariavelmente traçavam longas conversas, discussões sem fim...
Passavam a noite ali.
Eu, servindo, enchendo e reenchendo os copos, escutava aqui e ali pedaços das conversas. O assunto era sempre o mesmo. O ser humano e as coisas que ele fazia.
Eu gosto desse grupo, as conversa são boas, animadas, aprendo muito com as discussões, embora tenha muita coisa que eles dizem que me deixam meio no ar.
Tem um, um tal de Lacan, que vive dizendo que o comportamento das pessoas é dado pelo que elas sonhavam a noite.
Pelo que eu entendi, o sonho é o que a pessoa queria que acontecesse na realidade, mas quando ele tenta por em pratica o sonho, a repressão da sociedade, as normas sociais, não o deixam realizar o sonho da forma que sonhou. Ele falava que o sonho era a realidade oculta.
Pelo que entendi, é igualzinho o que meu pai falava, diga-me com quem tu andas que te direi quem és. Quer dizer que o homem fica preso ao grupo que ele anda, que dita as normas de como ele deve viver. Deve ser muito chato esse negocio.
Eu amo o sono e o sonho. A minha vida tem tendência a tornar-se distante quando estou acordado, será por isso? Se ao menos pudéssemos escapar disso de estarmos sempre fazendo o papel de nós mesmos!
Quando ele começava a dizer todo esse lero-lero, logo alguém dava um aparte, quase sempre um tal de Jung, que logo vem dizendo que ele não pode pensar daquela forma, pois tudo depende de compreender as pessoas e depois interpretá-las.
Tem que escutá-las e depois tentar entender o que elas queriam dizer com aquilo.
- Conhecer um homem e conhecer o que tem dentro da cabeça são assuntos diferentes, falava ele.
Isso quase sempre me dá um nó na cabeça. Fico pensando:
- O que esse cara quer dizer com isso?  Quer dizer que a gente tem que aprender a escutar os outros?  Como deve ser difícil curar com conversa um mal, que a pessoa não sabe nos dizer o que é.  Fiquei fã desse cara.
Mas não deu nem um tempinho pra que eu pensasse muito nisso aquela hora, pois um outro, o Skinner já vinha logo dizendo que estavam todos errados e que as pessoas agiam da forma que tinham sido treinadas para agir, que era tudo treino, pode?  Gente parecendo rato?
Eu gostei bem mais dos apartes de um casal simpático, mais relaxado, sempre presente, que disse que o pessoal tava viajando nas idéias demais, que o homem tinha de ser analisado como um todo, corpo, espírito e mente.
Eles falaram numa tal de Gestalt, que direciona tudo pro aqui, agora. Não adianta pensar pra trás e nem pra frente, pois o que importa é a forma que você age agora.
São o Fritz e a Laura Perls. Gente fina. Um deles até soltou uma frase de efeito: - Não apresse o rio, ele corre sozinho....
O que será que eles quiseram dizer com isso?
Tem uma outra mulher, uma alemaozona, mas ela não entrou muito na discussão, não. Se não me engano, o nome dela é Melaine Klein.
Acho que ela não entrou muito nas discussões, pois alguém me disse que ela gosta de lidar é com crianças, e ela fala que entende os meninos de acordo com as brincadeiras que eles fazem.
Ela deve ser muito doidona. 
Onde já se viu analisar uma criança, e entender o comportamento dela, só observando o modo como ela brinca? Vocês acham que quando ela tá lá brincando, ela vai pensar no que a incomoda, no que vai na cabeçinha dela? Vai nada!
E eles passaram horas e horas discutindo este tema.
Eles falaram de ego, superego, realidade, figura fundo, um monte de coisa difíceis, tentando explicar como essas coisas funcionavam, e sempre tinha um que dizia que isso tudo isso era subjetivo...
Mas o freguês mais interessante desse grupo é um velhote, que fica sempre sentado num canto como se não os conhecesse, fumando tranquilamente seu charuto, inseparável, com ar de desinteressado, meio aéreo, parecendo até que não quer ser notado enquanto os outros falam.
Não diz uma palavra, só olha!
Nesse dia porem, a discussão corria solta, os ânimos estavam elevados, de repente, enquanto eu lhe servia uma coca, e como ele gosta de coca, o velhote se levanta e diz:
- Isso é tudo culpa da mãe!!!!
Eu acho que a gente aprende muito escutando as conversas nas mesas, mas esse papo do velhinho deste dia, confesso que não entendi ....
Pra que ele foi colocar a mãe no meio?
Preciso me lembrar do nome dele...
.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Drummond erótico 4


Neste poema Drummond funde em um só, o amor etério, platonico com o amor terreno, carnal:



Amor, pois que é palavra essencial     

Amor - pois que é palavra essencial
comece esta canção e toda a envolva.
Amor guie o meu verso, e enquanto o guia,
reúna alma e desejo, membro e vulva.

Quem ousará dizer que ele é só alma?

Quem não sente no corpo a alma expandir-se
até desabrochar em puro grito
de orgasmo, num instante de infinito?

O corpo noutro corpo entrelaçado,

fundido, dissolvido, volta à origem
dos seres, que Platão viu completados:
é um, perfeito em dois; são dois em um.

Integração na cama ou já no cosmo?

Onde termina o quarto e chega aos astros?
Que força em nossos flancos nos transporta
a essa extrema região, etérea, eterna?

Ao delicioso toque do clitóris,

já tudo se transforma, num relâmpago.
Em pequenino ponto desse corpo,
a fonte, o fogo, o mel se concentraram.

Vai a penetração rompendo nuvens

e devassando sóis tão fulgurantes
que nunca a vista humana os suportara,
mas, varado de luz, o coito segue.

E prossegue e se espraia de tal sorte

que, além de nós, além da prórpia vida,
como ativa abstração que se faz carne,
a idéia de gozar está gozando.

E num sofrer de gozo entre palavras,

menos que isto, sons, arquejos, ais,
um só espasmo em nós atinge o climax:
é quando o amor morre de amor, divino.

Quantas vezes morremos um no outro,

no úmido subterrâneo da vagina,
nessa morte mais suave do que o sono:
a pausa dos sentidos, satisfeita.

Então a paz se instaura. A paz dos deuses,

estendidos na cama, qual estátuas
vestidas de suor, agradecendo
o que a um deus acrescenta o amor terrestre.

Carlos Drummond de Andrade
Imagem capturada na internet

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Drummond erótico 3

Dando prosseguimento às postagens de alguns dos poemas eróticos de Carlos Drummond de Andrade:



A língua lambe 

A língua lambe as pétalas vermelhas

da rosa pluriaberta; a língua lavra

certo oculto botão, e vai tecendo

lépidas variações de leves ritmos.

E lambe, lambilonga, lambilenta,

a licorina gruta cabeluda,

e, quanto mais lambente, mais ativa,

atinge o céu do céu, entre gemidos,

entre gritos, balidos e rugidos

de leões na floresta, enfurecidos.

Carlos Drummond de Andrade 

Imagem extraida da internet 
.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Festival-Tiradentes-MG


IMPERDÍVEL!

A 13º Edição do Festival Internacional de Cultura e Culinária de Tiradentes já esta sendo realizado  e vai até o dia 29 deste mês. 
Ele veio nesta edição, para homenagear as mulheres. 
Todo o staff do evento, chefs, baristas, sommeliers e palestrantes é composto somente de integrantes do sexo feminino. 
“De cada dez chefs, um é mulher, e elas tem um grande papel de referencia  na cozinha, bem como uma maior sensibilidade”, comenta o organizador do evento. 



As responsáveis pelo festim, serão: 

  • Margot Janse, do restaurante sul-africano Le Quartier Français; 
  • Helena Rizzo, do paulistano Mani;   
  • Rougi Dia, chef parisiense  do  Petrossian; 
  • Bel Coelho do restaurante Dui e ex parceira de Alex Atala; 
  • Angela Hartnett, parceira de Gordon Ramsay na serie Hell’s Kitchen; 
  • Adeline Grattard do Yam Tcha de Paris; 
  • Reine Sammut, do também françes Auberg de La Feniere;  
  • Pepa Romans do Casa Pepa, de Ondara, Espanha.

As quatro ultimas Chefs estreladas do Michelin.

Maiores informações pelo site:     http://www.guiatiradentes.com.br/


Tiradentes  

Éuma cidade  tombada pelo patrimônio histórico, situada a 190 Km de Belo Horizonte na região do Campo das Vertentes, no sudoeste de Minas Gerais. 
Tem uma população aproximada de 6.000 habitantes.
É voltada ao turismo, artesanato, fabricas de moveis e atividade rural.
Promove vários eventos durante todo ano:
Janeiro - Mostra de Cinema de Tiradentes. Voltada aos amantes do cinema.
Março - Semana Santa - Festa de tradições centenárias.
Junho - Festival de Motos - Chega a reunir 3000 motoqueiros
Julho - Inverno Cultura - Musica, Artes Plásticas e Teatro
Agosto- Festival Internacional de Cultura e Gastronomia
Setembro - Festival do Artesanato
Novembro- Festival Classic Fusca. Para os amantes do Fusca.
.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Drummond erótico 2

Como disse no post anterior, resolvi postar alguns poemas de Carlos Drummond de Andrade, poemas de sua fase erótica, daqueles  pouco conhecidos que acho valer a pena divulgar. 
Esse é o primeiro da série:



O que se passa na cama  

(O que se passa na cama
é segredo de quem ama.)
É segredo de quem ama
não conhecer pela rama
gozo que seja profundo,
elaborado na terra
e tão fora deste mundo
que o corpo, encontrando o corpo
e por ele navegando,
atinge a paz de outro horto,
noutro mundo: paz de morto,
nirvana, sono do pênis.

Ai, cama canção de cuna,
dorme, menina, nanana,
dorme onça suçuarana,
dorme cândida vagina,
dorme a última sirena
ou a penúltima… O pênis
dorme, puma, americana
fera exausta. Dorme, fulva
grinalda de tua vulva.

E silenciem os que amam,
entre lençol e cortina
ainda úmidos de sêmen,
estes segredos de cama.

Carlos Drummond de Andrade 
Foto extraida da internet

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Drummond erótico.


Meu propósito  sempre foi valorizar o PIB de Minas Gerais, e o nosso maior produto é gente da melhor qualidade. Dentre elas, não poderia deixar de render uma homenagem a Carlos Drummond de Andrade, uma das maiores cabeças pensantes deste país. Com uma ampla obra que transita entre a poesia e o conto. Drummond escreveu incansavelmente até o fim de sua vida. Uma mente tão criativa e produtiva que, mesmo depois de sua morte, ainda foram lançados diversos materiais inéditos de sua autoria. Mais do que qualquer outro gênio soube ser reconhecido enquanto vivo e não se deixar morrer mesmo negando os convites para se tornar imortal como membro da Academia Brasileira de Letras. Um fato interessante é que Drummond, aos 17 anos, foi expulso da escola onde estudava, sob a alegação de "insubordinação mental". Ainda bem...



Nascido e criado na cidade mineira de Itabira, Carlos Drummond de Andrade levaria por toda a sua vida, como um de seus mais recorrentes temas, a saudade da infância. Precisou deixar para trás sua cidade natal ao partir para estudar em Friburgo e Belo Horizonte.
Formou-se em Farmácia, atendendo a insistência da família em graduar-se, mas não chega a exercer a profissão, alegando querer "preservar a saúde dos outros" Trabalha em Belo Horizonte como redator em jornais locais até mudar-se para o Rio de Janeiro, em 1934, para atuar como chefe de gabinete de Gustavo Capanema, então nomeado novo Ministro da Educação e Saúde Pública.
Em 1930, seu livro "Alguma Poesia" foi o marco da segunda fase do Modernismo brasileiro. O autor demonstrava grande amadurecimento e reafirmava sua distância dos tradicionalistas com o uso da linguagem coloquial, que já começava a ser aceita pelos leitores.
Drummond também falava sobre temas como o desajustamento do indivíduo, ou as preocupações sócio-políticas da época e apesar de serem temas fortes, ele conseguia encontrar leveza para manter sua escrita com humor e uma sóbria ironia.
Produzindo até o fim da vida, Carlos Drummond de Andrade deixou uma vasta obra. Quando faleceu, em agosto de 1987, já havia destacado seu nome na literatura mundial.
Com seus mais de 80 anos, considerava-se um "sobrevivente".
Existiu uma faceta de Drummond pouco conhecida dos leitores e só veio a publico em sua integra, na publicação pela Editora Record o livro “O Amor Natural”, de 1930, composto de poemas eróticos.

“Amor, amor, amor - o braseiro radiante que me dá, pelo orgasmo, a explicação do mundo.”

O Amor Natural é sem dúvida o livro mais ousado do poeta.
Publicado após a sua morte, trata do amor com uma linguagem desnuda, quase pornográfica, dividindo as opiniões sobre seu conteúdo.
Seria uma obra obscena ou um exercício estético do erotismo?
Muitos dos poemas foram compostos muito antes da década de 1970 onde, algumas delas,  frequentaram revistas eróticas como Homem, Ele&Ela e Status.
Durante sua vida, Drummond evitou publicá-los em livro, antes da revolução sexual e de costumes, por receio de serem confundidos com pornografia.
Em 1985, o poeta, que nunca considerou esses escritos um trabalho menor, concordou em ceder 39 dos 40 poemas reunidos em O Amor Natural à pesquisadora Maria Lúcia Pazo Ferreira, para que esta os analisasse em tese acadêmica.
A conclusão a que chegou Maria Lúcia é de que o erotismo em Drummond tem um fundo místico e se afasta da pornografia.
O escritor tampouco teve intenção de privar o público de conhecer seus poemas eróticos. O que fez foi instruir seu neto e herdeiro Pedro Augusto a publicá-los após sua morte, na data em que achasse mais conveniente.

A obra de Drummond é por demais conhecida, mas a fase erótica ficou um pouco obscura e no intuito de divulgá-la, no proximo post começarei a apresentar essa fase, da qual gosto muito, iniciando com o poema:
O que se passa na cama 

Dados colhidos no site da Editora Record
.

domingo, 22 de agosto de 2010

7 pecados.



Os sete pecados capitais


Preguiça
Já há muito o sol clareava a manhã quando ela abriu os olhos, espreguiçou por quinze minutos, rolou na cama e decidiu que aquele dia seria o dia de fazer nada. Que a poeira dormisse sobre todos os móveis e que a louça da antevéspera esperasse na pia pelo dia seguinte.

Luxuria
Deitada sobre o desencontro sentia ainda o cheiro do vinho azedo nos lençóis, os farelos que lhe beliscavam a carne e as marcas de todos os humores que deixavam em sua boca o gosto travado da última noite. Os beijos que tatuaram em seu corpo ásperas cicatrizes e as marcas das mordidas que ficariam para sempre em sua alma. 

Ira 
Um calor vermelho lhe subia das entranhas e a vontade era arreganhar as janelas e fazer o mundo todo ouvir aquele sentimento que ontem fora o eco de todos os uivos e hoje, pela manhã, despertava apenas a possibilidade do silêncio. Que ele se perdesse em outros abraços, que morresse em outros orgasmos. Que se fodesse pelas esquinas de outros desencontros.

Inveja
Foi a luz do sol que mostrou a ele suas carnes flácidas, a raiz branca de seus cabelos, os rictos que a maquiagem desfeita revelava. E ele vira claro o que a noite tornara opaco. Quisera ser a mulher da capa da revista com as carnes duras e o coração protegido por músculos comprados em academias e consultórios.

Orgulho
E ele saberia o que perdera quando se perdesse em outros abraços. Diria não, se ele voltasse e lhe pedisse um sim. Jamais o telefone, a campanhia da porta, o encontro de fim de noite.

Avareza
Trancafiar os sentimentos no fundo da alma. Economizar sorrisos. Capitalizar afagos. Atar no meio das pernas qualquer possibilidade de dádiva. Fechar as mãos a todas as posses que não a de si mesma. Dona de seus quereres os guardaria no cofre da alma atemporal e a ninguém seria permitida a chave. Ou o segredo.

Gula
Enlouquecida e nua devorou a dor.
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Texto de Ro Druhens 
Garimpado no blog da Isabela    http://isabelebezerra.blogspot.com/
Gravura:  Hilda de Duane Bryers
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