Tela do artista plástico moçambicano Antero Machado.

Tela do artista plástico moçambicano Antero Machado.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Papo de buteco 8 - Pé na bunda



As duas estavam sentadas sozinhas e uma delas, consolando, acariciava os cabelos ruivos da amiga. Trocavam confidencias.
Me aproximei levando o cardápio, e querendo ou não escutei trechos da conversa.
A ruiva, cabisbaixa e chorosa, dizia à amiga:
- Ele me disse que não se sente preparado para assumir nada, prefere encontros casuais a manter um namoro mais sério. São dois anos jogados fora, Ana!
- Pelo que você ta dizendo, ele te deu um tremendo pé na bunda.
- É, eu sei. Mas como esquecer um amor? Coisa insuportável é esta maldita dor de cotovelo que sentimos quando levamos um fora, não é?
Lu, disse a amiga, vamos ser praticas!
- Para começar, é bom jogar todas as fotografias fora , principalmente aquelas do tipo em que os dois estão na praia, fazendo carinha de apaixonados, dividindo o mesmo espetinho de camarão...  Caso contrário, quando for folhear o velho álbum de fotografias da família, vai acabar dando de cara com a foto do “casal de pombinhos” bem ali, entre as fotos do batizado e do seu tio bêbado, no sitio da família assistindo a copa.
- Mas Ana, eu sinto tanta falta dele....
- Olha Lu, deixa eu falar uma verdade pra você. Quando se sentir solitária e bater aquela saudade, com aquele tesãozinho que pinta na hora de dormir, antes de se sentir tentada a pegar o telefone e correr o risco de aceitar um convite dele para darem um picote no banco de trás do carro, segura a onda, joga água fria na  bacurinha para ver como 80% da vontade desaparece...

Eu ali, rodeando a mesa, me interessei pela conversa. Fingi que limpava uma mesa ao lado, e fiquei de orelha em pé.
Pensei comigo: - O mais importante é ela tirar aquela aura de "maravilhoso" do carinha! Mulher apaixonada é mulher iludida, então tem de acabar de vez com estas ilusões. Ficar achando que ele é muito bom, o melhor homem do mundo e outras babaquices, só serve para mantê-la sempre iludida e ainda presa à ele.
Tem mais é que pensar nele sentado em vaso sanitário, com um rôlo de papel higiênico nas mãos, fazendo aquela cara de sofrimento, com as veias da testa quase explodindo! Vamos lá, tente fazer isso para ver como ele deixa de ser um semideus, um Eros, para se tornar um simples mortal.

E o papo entre as duas continua:
- Lu, me escuta! A maioria das pessoas continua apaixonada pelo o que a outra pessoa era, e não pelo o que ela se tornou! Pense neste babaca, e me responda qual é a primeira imagem que surge em sua mente?
- Bem Ana...
- Aposto que é uma imagem bem antiga, do tempo em que você achava que ele era o homem da sua vida. Continue pensando e vai chegar em um ponto em que as coisas começaram a ficar complicadas entre vocês.

Saquei logo o papo da Ana. Fazer a amiga relembrar os momentos ruins, ia levá-la a uma angústia e, inconscientemente, iria se ver com vontade de esquecer e voltar a pensar apenas nos momentos bons.

- Viu como você gosta de se iludir?? Continuou Ana - E isso é natural, pois a paixão nos faz pensar no que o outro tem de bom e esquecer o lado ruim... E assim você pode continuar a idolatrá-lo, pois você deseja isso! Sai dessa!!!

Pensei com meus botões: - Ela ama um homem que há muito tempo deixou de existir na vida dela. Se fosse este homem de agora que tivesse aparecido em sua vida, duvido que ela teria se apaixonado por ele.

- Tire da cabeça toda idéia de se manter na secura! Você não precisa deixar de provar o sabor de outras frutas só porque uma caiu do pé e apodreceu. Além do mais, pode apostar que ele não vai deixar de dar umas bimbadinhas só porque você resolveu que nunca mais vai gemer debaixo de outro homem.

Continuei ali ao lado com as minhas ruminâncias.... Pelo menos nos primeiros dias depois da separação a mulher deve evitar usar coisas que fazem com que se lembre do cara! Se todas as vezes que ela olhar para uma salada de pepinos e começar a chorar, lembrando dos momentos que viveu ao lado daquele "macho bem dotado", ela deve proibir a empregada de botar à mesa qualquer coisa que desperte esta sua nostalgia, como lingüiça, salsichão e etc.

- Ana, eu tenho vontade de sair correndo atrás do morzão, parar na frente do prédio dele e começar a gritar " eu te amo” !!!!
- Lu, quando acontecer isso, me ligue! Vou te trancar no banheiro, e só vou abrir a porta quando passar essa crise de abstinência amorosa. Armar barraco já é muita pobreza para aturar, fazer uma cena patética dessa, implorando por amor, na frente da casa do benzão, já é coisa de quem precisa de umas boas palmadas na bunda.

Ouvindo o chororô, me veio a cabeça que a mulher tem de aprender a usar o pensamento conflitante para afastar um homem de seu coração. Desconstruir o cara. Em vez de pensar: "Nossa, ninguém sabe como acariciar meus seios como o Carlão", use um pensamento antagônico como: "Só que aquela besta nunca foi capaz de encontrar meu clitóris! Precisava de um cursinho rápido de Braile"
Mas, se ele era bom de cama e nunca precisava de uma mãozinha nem na hora de achar o buraquinho, então mude para coisas mais pessoais como: "Ele era ótimo de cama, mas tava sempre com a cueca suja! Isso mata qualquer paixão!
Outra coisa que é batata! Nunca vá em cartomantes ou videntes logo depois do chute na bunda! Este pessoal tem um faro impressionante para descobrir as fraquezas de mulheres abandonadas (e burras). Então, para ferrar de vez com a situação, ela vai ouvir que "ele ainda te ama", que vão se casar e ter um monte de filhos.
No fim vai acabar saindo mais iludida do que entrou, cheia de esperanças inúteis, além de ter que fazer horas extras para pagar um "trabaio bom pra amarrá home"!
Depois não adianta ficar com vergonha de lembrar que foi capaz de ir a uma encruzilhada, bem no meio do cemitério, para jogar açúcar na cueca dele, fumar charuto e beber uma garrafa de "Sidra Cereser"!
Aliás, fazer macumba pra prender macho é o último degrau na falta de vergonha na cara que uma mulher pode descer!!

Entraram outros fregueses e fui obrigado a ir recebê-los. Uma turma grande.
Me entretiveram por um tempo e quando terminava de despachar os pedidos percebi o chamado:
- Me vê a conta por favor? Disse Ana.

Que pena, não fiquei sabendo a conclusão da historia.
Será que ela vai conseguir se esquecer do cara? Se ela seguir os conselhos da amiga, pode até ser. Ela tem é que arrumar um novo amor. Nada como novas experiências pra se esquecer do passado, esquecer da saudade.
Depois que o caso acabou de vez, que não tem mais volta, tornou-se amor de um lado só, nada como seguir aquele sábio ditado grego:   Para curar um amor Platônico, nada melhor que uma transa Homérica, né mesmo?

Adaptado de matéria da Revista Andros 
Imagem "roubada"do Blog http://www.mesadamadrugada.com.br/ da Ana
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