Tela do artista plástico moçambicano Antero Machado.

Tela do artista plástico moçambicano Antero Machado.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

E agora?

Em um dos posts anteriores, durante a resposta a um comentario, eu disse que o assunto dava um post, e que iria escreve-lo e coloca-lo em discução. 
Normalmente a gente expressa o que vê a nossa volta, no grupo em que nos inserimos, na nossa fatia social, mas desta vez gostaria de generalizar esse tema.
Tenho visto muitas mulheres do meu relacionamento, mulheres inteligentes, de boa cultura, independentes, questionando se está valendo a pena todas as conquistas que tiveram com o movimento feminista. 
Vou falar do que sinto, do que observo e propor uma maior reflexão. 
A grosso modo, com a “queima dos sutians” as mulheres começaram a mudar o seu papel na sociedade extremamente machista. Ela era insignificante no aspecto social, não tinha direitos, era submissa a um “senhor”, a "rainha" do lar, sempre em segundo plano e era considerada intelectualmente inferior. 
Foi preciso muita luta e elas obtiveram muitas conquistas, muitas alegrias, muita desilusão, muita perda também.  Foi uma luta intransigente e radical.
Hoje, esta luta radical perdeu um pouco o sentido. As mulheres já conquistaram o seu espaço. Estão inseridas no mercado de trabalho, são reconhecidas pela competência, são provedoras, ocupam 60% das vagas nas universidades, pilotam seus carros neste transito caótico, pilotam helicópteros de combate, tem comprovada capacidade intelectual, liberaram-se sexualmente, saem a caça, e etc. Enfim, se igualaram totalmente aos homens. Mérito delas que abriram seu caminho a ferro e fogo. Não existe mais o questionamento se elas são capazes ou não.
Isso tudo ocorreu num espaço de 50 anos!!!!
O homem observou tudo isso acontecendo em seu próprio canto. Viu o seu padrão machista perdendo espaço. Viu as mulheres se tornarem mais agressivas em busca de suas conquistas. Viu “seu” mercado de trabalho ser invadido. Já não é mais o “senhor” do lar, já não é mais o provedor, se sentiu caçado, viu vários papeis se inverterem. 
A mulher não é mais submissa, ela fala o que quer, expressa e impõe as suas vontades. Tem a coragem de chutar o balde e assumir sua própria vida de acordo com suas convicções.
Isso assusta os homens!!!!
Sentadas em suas conquistas, ela agora percebe que não da conta de ser homem/mulher. 
Ela não tem como assumir os dois papeis. Isso é fato!
Elas no intimo ainda são essencialmente mulheres. Sensíveis, românticas, femininas. 
Elas ainda sonha com o príncipe encantado. A mulher, por mais que ela saiba que as amigas casadas vivem infelizes,  nunca se perdoa por estar sozinha. Ela vive como se aguardasse o Principe num cavalo branco para "tirá-la daquela vida”, a vida de solidão. Ainda acreditam na “outra metade”.  Ainda cultiva a certeza de que vai achar a outra metade! 
Elas ainda sonham em se casar e ter filhos, ter uma união estável e serem felizes. 
Elas estão em conflito com elas mesmas. Como conciliar as conquistas com os desejos? 
Ela abre mão de qual?
Com isso, ela cobra dos homens atitudes para as quais eles não estão preparados. 
Elas sabem que precisam deles para serem completas.
Cobram maior sensibilidade, cobram que eles entendam o universo feminino, cobram um parceiro sexual de acordo com a sua nova sexualidade, cobram um companheiro, cobram equilíbrio, mais atenção, cobram que ele assuma responsabilidades na lida domestica, na criação dos filhos...
Elas chegam de sua jornada de trabalho e dão outro turno em casa, cuidando dos filhos.
Se elas não fizerem isso, os filhos ficam abandonados ou com uma agenda de atividades maior do que a de um executivo. Os homens não ajudam, com rarissimas exceções. 
Elas cansaram!!
Elas estão rigorosamente corretas em seus anseios, e devem cobrar isso! 
Atrás dessa cobrança recorrente ainda existe um antigo preconceito masculino: O desejo feminino quando exposto deve ser reprimido. 
Para muitos homens, não existe meio termo, ou a mulher é comparada a mãe, e deve ser pura, ou, então, ou então ela é prostituta, que não merece nenhum respeito: uma mulher, que demonstra explicitamente seus desejos, só pode ser leviana e assim, com ela tudo é permitido, inclusive a violência.
Eles foram criados assim, este era o padrão social deles!
Além disso, existe a insegurança de que, se as mulheres tiverem desejo sexual próprio, elas irão cobrar melhor performance dos homens, e isso eles não admitem.  
Estão questionando o seu papel de macho! 
Existe também o receio real, a insegurança, de que, se elas tem desejo próprio, por que não escolheriam outros homens melhores do que eles?
Os homens ainda não estão preparados para isso!!!!
E eles não gostam de discutir sobre isso, isso os incomoda, isso os diminui!
Enquanto elas se abriam, cresciam, desabrochavam, eles ficaram em seu canto estáticos, e não perceberam a profundidade dessa mudança.
Eles estão ainda inseguros quanto a si próprios e as cobranças e desejos desta nova mulher, ainda não aceitam ser questionados.
Mas elas estão intransigentes nas suas reivindicações e isso aumenta o abismo entre eles.
Com isso estão cada vez mais solitárias. Conseguem parceiros temporários. 
Com o tempo a expectativa dela cai, enquanto o medo dele aumenta. 
Cada um defende intransigentemente o seu papel. 
Não que elas tenham que recuar, abrir mão de conquistas, mas é preciso tempo para a assimilação dessa nova ordem social.
E preciso dar mais tempo aos homens.
E neste aspecto as mulheres tem um papel fundamental, ela precisa superar o radicalismo, pois é preciso entende-los mais, penetrar em seu universo, com seus medos e dogmas e, inclusive, ajudá-los a superarem estes medos e caminharem juntos nesse processo.
Como mães elas tem um papel preponderante na formação deste novo homem, preparando as novas gerações.
Será que elas estão dispostas a isso? 
Será que encaram essa nova revolução?

imagem da net

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