Tela do artista plástico moçambicano Antero Machado.

Tela do artista plástico moçambicano Antero Machado.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Blog Retrô - HAIR

Este post faz parte da Blogagem Coletiva proposta pela Elaine Gaspareto ("Um pouco de mim"), o Blog Retrô, onde a gente reposta posts dos quais a gente gosta, que causaram repercussão, polemica ou as vezes que até passaram desapercebidos na época da postagem e queríamos recordar. 
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 A postagem sobre os pelos femininos (aqui) me trouxe a memória de um grande acontecimento que mudou radicalmente a minha vida.
Eu o relembro ainda com emoção e conto para vocês.
Hair  esta sendo encenada na Broadway e quem tiver a oportunidade de assistir não pode perder, pois essa é a montagem do texto original, sem adaptações. Fantastico!!!

Ao final de 1969, o musical Hair chegou a Beagá, com grande estardalhaço.
Era uma peça onde os atores eram “hippies, loucos desvairados, rebeldes, subversivos”, e outras cositas más.
Fui assisti-la, com a namorada da época (ah, que saudade!) no Teatro Francisco Nunes, no Parque Municipal.  Chegamos entusiasmadíssimos para ver aquela novidade!
De cara, nos deparamos com os atores perambulando em torno do teatro, um bando de ilustres desconhecidos, maltrapilhos, cabelos desgrenhados, caras de sujos, aparência de drogados..... Confesso que deu medo!
Outra coisa que me chamou a atenção era o fato de serem todos bem jovens, da minha idade, e me pareceram tão maduros...
Hair havia estreado na Broadway, no Teatro Baltmore em 29 de abril de 1968 com grande sucesso e teve quase duas mil apresentações no local.
O musical segue a trajetória de um grupo de hippies, A Tribo,  da Era de Aquário politicamente ativos, em sua luta contra o recrutamento militar no período da Guerra do Vietnam. Entre os hippies estão Claude e Berger, que lutam contra a convocação do primeiro, e Sheila, filha de burgueses, apaixonada pelos dois, mas muito envolvida na luta política para cuidar de seus sentimentos amorosos. Eles e os outros membros do grupo sintetizam o pensamento e a prática dos hippies nos anos 60.
Neste mesmo ano do lançamento do musical, 1968, no mês de dezembro no Brasil era assinado o Ato Institucional nº 5 que intensificou a ditadura militar com cassações de direitos políticos, prisões e torturas áqueles que se opunham ao regime e exigiam liberdade em todos os sentidos e principalmente de "expresssão" no caso dos artistas.
Neste contexto, no ano seguinte ou seja em outubro de 1969 estreava em São Paulo a montagem brasileira do musical, no palco do Teatro Aquarius, mais tarde Zaccaro, na Bela Vista. Graças à audácia do ator e produtor Altair Lima que comprou os direitos da peça para ser encenada no Brasil e investiu todas as suas economias, na época, cerca de duzentos (200) milhões de cruzeiros e permaneceu em cartaz de 1969 a 1972, sempre tendo apresentações com lotações esgotadas e chegando a quase duzentos mil espectadores só nos oito primeiros meses de lançamento .
Ademar Guerra, diretor e o produtor Altair Lima tiveram que vencer várias dificuldades. Primeiro, a descrença de empresários teatrais de que era possível montar um musical do porte de Hair no Brasil. Depois de vencida esta resistência, veio outro problema: a censura.
A montagem original era repleta de cenas em que os atores apareciam nus, o que desagradou a censura. Seguiu-se uma penosa negociação e, ao final, os censores concordaram em que a nudez dos atores seria mostrada apenas uma única vez na peça, em uma cena com apenas um minuto de duração e na qual os atores deveriam permanecer absolutamente imóveis.
Apesar das restrições, Ademar deu um tratamento requintado à cena, que caiu no gosto do público e da crítica e é lembrada até hoje como um dos grandes momentos do teatro brasileiro.
Na introdução do tema ”Aquarius”, eu já estava totalmente em choque!
A partir daí foi um choque atrás do outro
O elenco não estava fazendo uma tribo hippie – era uma tribo hippie. Seus cabelos inclusive eram de verdade, não eram perucas. Não tinham nem um pingo de maquiagem e a luz era tão genialmente marcada nas profundidades do teatro que a minha sensação foi estar realmente testemunhando um rito tribalista, observando uma real comunidade hippie
Eu me lembro, que em certo momento da peça, todos cantando, entram sob um grande lençol branco, enorme, e a iluminação joga luzes giratórias de todas as cores incidindo em movimento sobre ele. O grande lençol se movia como um mar em ondas, notava-se uma grande agitação por baixo dele.
O canto continua , as vozes foram se elevando e de repente.....
O pano sobe e estão todos eles nus, de braços abertos, paralisados e amplamente iluminados com luz branca, clarissima.
Esta cena durou a imensidão de 1 minuto e todas as luzes se apagam!
Foi um silencio sepulcral. A platéia estática, de olhos arregalados.
Ninguém nunca havia visto uma coisa daquelas. Todos embasbacados.
Confesso que até hoje tenho gravado em minha memória, todas as cenas, com tinta indelével.
E eu vi!!!!!  Eu vi Sonia Braga com 18 aninhos peladinha, nua em pelo, com pelo, na minha frente, a no maximo 10 metros. Durante 1 minuto inteirinho. Durou uma eternidade, pois até hoje a vejo claramente.
Hair foi um marco na minha existencia.
A mosca da liberdade de expressão, a liberdade de “ser”, a contracultura, o poder da juventude, me picou e norteou para sempre o rumo da minha vida.
Me marcou o ideal hippie que retratava a peça. Não tratou o jovem como um estado de espírito e sim como uma pessoa qualquer de pouco mais de 17 anos… Adolescentes perdidos e contestando algo que  não sabem direito o que é, que precisam estar em bandos pra se proteger até deles mesmos. Eu era um deles ....
Hair não era só uma celebração da contracultura. Era uma celebração total. A tribo que eu vi naquela época está longe do ideal hippie dos fofos doces macrobióticos chatos que a gente se depara por aí cantando Hare Krishna e vendendo incenso ou henna. Eles eram zangados, hostis, ao mesmo tempo ternos e amorosos,  arrogantes, confusos, arrojados, mas com medo dos pais, do país, de Deus, com medo de ir pro inferno, com medo de uma vida nova, que se anunciava sem regras, sem partitura. As novas regras sociais quem fariam seriam eles, e isso  os assustava. Cada um testava seus limites. Em tudo!! Os horizontes se extenderam.
Hair marcou a estréia de vários jovens atores e atrizes, que depois se tornaram famosos por suas atuações no teatro, cinema e televisão.
O elenco era totalmente desconhecido, Eram jovens, muito jovens. E muito sinceros e com uma entrega e uma verdade tão completa que era difícil não acreditar que eles não estivessem drogados numa “viagem” durante o espetáculo. Ao final da peça, enquanto cantavam “Let the Sunshine in”, os atores desceram ao publico distribuindo flores em profusão.
Estavam a 10 mil por hora, correndo pelos corredores, subindo em poltronas, abraçando as pessoas da platéia, provocativos e desafiando os meus pudores e preconceitos.
O elenco inicial era composto por Armando Bogus, Sônia Braga, Maria Helena, Altair Lima, Benê Silva, José França, Neusa Maria, Marilene Silva, Laerte Morrone, Aracy Balabanian, Gilda Vandenbrande, Bibi Vogel e Acácio Gonçalves.
Sônia Braga, então com 18 anos, foi a grande estrela da peça, mas quase ficou de fora do elenco, pois não contava com a simpatia do diretor Ademar Guerra e só foi aceita por conta da insistência de Altair Lima.
Entre os que se encantaram com Sônia, estava Caetano Veloso que compôs Tigresa em sua homenagem. Sônia era a “tigresa de unhas negras e íris cor de mel, que trabalhou no Hair”.
Ao longo da carreira da peça, que se estendeu até 1972, entraram as atrizes Ariclê Perez e Edyr Duqui (que depois faria parte do grupo musical As Frenéticas) e os atores Antonio Fagundes, Nuno Leal Maia, Ney Latorraca, Denis Carvalho, Buza Ferraz e Wolf Maia.
A direção musical da peça foi de Cláudio Petraglia, a coreografia, de Márika Gidali e a tradução das músicas para o português, de Renata Pallotini.


O filme Hair, baseado no musical, de 1979 foi dirigido por Milos Formam
A grande diferença entre os enredos da peça e do filme é que na peça Claude chega à conclusão que a vida na “Tribo” não é o que ele realmente deseja e vai para o Vietnam. No filme, Berger toma seu lugar involuntariamente e morre na guerra. O musical encerra sem que o público fique sabendo o destino de Claude no Vietnam.

Dados extraídos de : http://teatromusicalbrasil.blogspot.com

Este post foi originalmente publicado em 11/09/10 





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