Tela do artista plástico moçambicano Antero Machado.

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domingo, 26 de dezembro de 2010

Papo de Buteco 40 - A carta.

Eu sempre tive muito medo da palavra escrita, principalmente quando ela envolve sentimentos. As palavras grafadas são duras, impessoais, sem a impressão real de um interlocutor frente a frente, olho no olho. Uma carta ou um e-mail, é uma conversa de um lado só, extremamente unilateral.
Você a escreve com o sentimento do momento, com as palavras que naquele momento exprimem, para você claramente, o que sente.  O interlocutor ao lê-la, coloca ali os seus sentimentos, as suas impressões, as suas interpretações. 
Ele pode ter guardado alguma impressão, que não foi dividida em algum contato anterior e essa impressão interfere na hora da leitura.  Uma só  palavrinha fora do lugar....
As palavras escritas não tem expressão facial, não tem modalidade de tom, de força, de suavidade ou rispidez, elas ficam sujeitas ao estado de espírito de quem as lê.
Eu tenho uma tranqüilidade absoluta quando escrevo sobre temas impessoais, chegando mesmo a ser até bem didático, claro, objetivo.
Com as correspondência pessoal, não, e varias vezes já meti os pés pelas mãos, pela interpretação inadequada, as vezes até injusta, daquilo que eu realmente tive intenção de dizer. Principalmente se existe um mal entendido entre os dois. E depois que o estrago esta feito, é muito difícil o reparo. A desconfiança se instala e fica extremamente difícil repará-la. Normalmente estas correspondências se dão pela distancia física dos interlocutores e o espaço de tempo entre elas pode causar danos até irreversíveis. 
Definitivamente, não gosto delas.
Isso me veio a lembrança devido ao fato que aconteceu com um rapaz, estudante de medicina, que faz residência no Hospital bem próximo aqui do Buteco.
Ele sempre falou de uma namorada que tinha no interior de Minas, pela qual era apaixonadíssimo e queria ficar noivo, para casar assim que terminasse o seu período no Hospital. Chegou aqui um dia, todo entusiasmado, feliz da vida  me mostrando a aliança que comprara, dizendo que em um futuro bem próximo iria até a cidade dela e pedir ao Coronel, pai da moça, a sua mão em casamento.
Antecipando o inverno rigoroso que sempre assolava a terra dela, ele foi a uma loja de departamentos e comprou uma lindo par de luvas de pelica, que lhe daria de presente no Dia dos Namorados, já prevendo o frio que viria.  Ele as enviaria aquele dia mesmo, acompanhada de uma carta à mocinha. Já fazendo um meio de campo.
Dias depois, o rapaz aparece desesperado, pois um engano havia ocorrido no envio, e o pai da garota estava atrás dele, com espingarda em punho, querendo aplicar-lhe um corretivo. 
O casamento, bau bau, foi pras cucuia.....
Ele me disse que escreveu a carta e deixou-a sobre a cama ao lado do embrulho com as luvas, e pediu a uma das enfermeiras que o enviasse pelo Correio.
Ela foi ao quarto, pegou a carta e o embrulho e os colocou na bolsa, para ir ao Correio na saída de seu turno, dali a pouco.
Acontece que por coincidência, ela havia passado naquele dia na mesma loja e comprado uma calcinha, bem sexy, que pretendia usar na próxima saída com o namorado. 
Como eram da mesma loja os embrulhos eram bem parecidos.
Na hora de enviar a correspondência do jovem ela distraidamente pega o embrulho com a calcinha e o envia à namorada do médico juntamente  com a carta.
Ele me mostrou a copia da correspondência e eu a reproduzo para vocês:


O Coronel tem ou não tem razão de estar atrás do rapaz?
E é o que eu disse lá em cima, depois dessa adianta ele tentar explicar alguma coisa?
Se eu fosse ele nunca mais aparecia por lá......


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