Tela do artista plástico moçambicano Antero Machado.

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domingo, 26 de agosto de 2012

Causos de Minas XXIV - Minerim e os sabichões


Nas estradas pelo interior de Minas, acontece de tudo.
O viajante desavisado fica em situações interessantes quando se envolve em algum confronto com o povo do lugar. O minerim com aquela carinha de capiau, fala mansa, esconde sua grande perspicácia, sua ironia e grande sabedoria.
Ai de quem se engraçar com ele!
Vou contar pra vocês alguns causos que ocorreram por aqui, só pra exemplificar.

Houve uma vez que, montado em seu carrão reluzente, o sujeito viajava pelo interior de Minas quando passa a toda velocidade diante de uma fazenda e acaba atropelando um galo. Desce imediatamente e, consternado, vê que o bichinho está morto. Nisso, olha de lado e vê um homem capinando muito próximo à cerca.
Virando-se para o minerim, o sujeito diz:
- Desculpe, amigo! Foi realmente culpa minha...
O matuto fica olhando pra ele.
E ele, sem jeito, continua:
- Puxa, eu não deveria estar correndo tanto... sinto muito, por ter matado o seu galo.
-Pois é.....matô. - Diz o minerim
- Mas eu faço questão de substituí-lo. – Diz o viajante ainda sem jeito.
E o minerim olha pra ele, coça a cabeça e responde:
- Vóismicê fique à vontade! As galinha num são muito boa não, mas o galinheiro é logo ali...


Doutra feita, depois de uma pescaria, ia o minerim andando pela estrada afora rumo ao seu ranchinho, quando passa um pescador da cidade grande. Para o carro, abarrotado de tralhas de pesca das mais modernas, e puxa conversa:
- Você pesca em rio ou lago?
- Eu pesco lá no açude que tem na minha roça, respondeu o minerim.
- E é grande esse açude? perguntou o moço.
- Óia, se eu pegar o meu barco com motor e sair de uma ponta, eu gasto uns 15 minuto pra chegar do outro lado!
Aí o pescador fala pavoneando:
- Na minha propriedade tem um lago que se eu sair no meu barco a motor de uma ponta às 6 horas da manhã, só chego do outro lado às 2 horas da tarde!
Ao que responde o minerima:
- Eu acredito! Eu já tive um motor desses, seu moço... É ruizim mesmo, né não?


E ainda tem mais outra, dum minerim que vinha andando pachorrentamente com seu burrico por uma estradinha quando, de repente, pára ao seu lado um "boyzinho" dirigindo uma tremenda máquina importada.
O "agroboy" resolve tirar uma em cima do matuto e diz, acelerando o motor turbinado:
- Dentro desse motor tem 400 cavalos!
E arranca cantando os pneus, envolvendo o mineiro numa densa nuvem de poeira.
Um pouco a frente, o rapaz, desacostumado com estradas de terra,  se desgoverna numa curva, atravessa a cerca de arame farpado e entra com a frente do carro dentro de um riacho à beira da estrada.
Desce todo atrapalhado e fica andando pra lá e pra cá com as mãos na cabeça, transtornado!
Logo depois chega o minerim com o burrico.
Vendo o carro com a frente mergulhada na água, o minerim pergunta:
- Tá dando de beber pra tropa, seu moço?

Pra que o sujeitinho foi mexer com quem tava quieto? Tomou!



quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Tenha-me...

Hoje eu resolvi postar esse poema de uma guria gaucha que me encanta desde sempre.
Falo da deliciosa Luna Sanchez que, mesmo ausente do mundo dos blogs, o reeditou pelo Facebook e eu o acho lindo e sensual. 
Eu pedi licença a ela para postá-lo, pois queria ofertá-lo, como um mimo, a uma pessoa que após longos anos resurgiu encantadoramente na minha vida.
Essa pessoa sabe quem é! 

É para ler e/ou ouvir 



 * A foto roubei de Luna

sábado, 18 de agosto de 2012

Delicias da minha juventude VIII - Meu Uberaba bão!



O meu negocio agora era me enturmar com o pessoal da escola.
E isso até que foi fácil! Quando eu me abri para isso e colocando na cabeça que se eu estava aqui a minha vida era aqui, as coisas passaram naturalmente a acontecer.
Uberaba era uma cidade tradicional e naquela época não havia boates, lanchonetes ou outro lugar onde a moçada pudesse ir. Só haviam os botecos “copo sujo”, típicos das cidades interioranas, onde os salgados eram péssimos e as bebidas baratas.
Nossa Faculdade fora criada por um homem sensacional, Mario Palmério, aquele mesmo do Chapadão do Bugre, da Academia Brasileira de Letras, que havia a pouco tempo sido, inclusive, Embaixador do Brasil no Paraguai. 
Homem de vida cercada de historias, algumas fantasiosas, mas quase todas verdadeiras.
No decorrer dessas” ruminancias” irei relembrando algumas delas por aqui.
Ele era um homem a frente do seu tempo e eu participei de uma geração de estudantes que inaugurou o “Campus” que ele criara fora da cidade, na região do aeroporto.
Campus moderno, com laboratórios completos e aulas dadas em anfiteatros, construídos com acústica requintada, onde o professor falava em voz moderada e era escutado na ultima fila.
Eu nunca tinha visto nada igual, mesmo conhecendo todas as faculdades da Capital.
Os professores em sua maioria eram excelentes e vários deles importados da USP
Por essas e outras coisas, Uberaba era um contraste só. Cidade de criadores de gado, de tradições mineiras, fechados, valores estruturados, que traziam os filhos sob os olhos vigilantes, e os estudantes universitários, que somavam mais de 10% da população.
Não que os valores fossem diferentes, pois a maioria absoluta destes estudantes era de cidades, também do interior,  das regiões vizinhas (Triangulo Mineiro, Goiás, Mato Grosso e do Norte de São Paulo.). A grande diferença era a de que moravam em republicas, espalhadas pelo centro da cidade e bairros próximos, praticamente uma em cada quarteirão.
Nessas republicas se instalavam jovens da mesma idade, na casa dos 20 anos, sem pais ou mães, entregues a própria sorte. Era uma vida de extrema liberdade, onde cada republica (o nome já indica o sistema de gerenciamento) traçava suas próprias regras. Cada uma delas normalmente dava uma festa por mês, e para isso economizavam no dinheiro de manutenção da casa. Como vários eram filhos de fazendeiros, feijão e arroz nunca faltavam. Às vezes se passava a feijão e ovo durante uma semana pra se ter dinheiro da festa. Nesse “modus vivendi”, era festa todo dia. Escolhia-se aonde ir de acordo com as afinidades. Nesse ambiente fui me entrosando e me soltando.
Mas eu ainda achava pouco.
Eu sempre fui muito dinâmico e empreendedor, tipo bicho carpinteiro, e sentia falta do que fazer. Lembro-me que entrando o mês de junho, eu e outro colega de São Paulo resolvemos fazer uma festa junina. Era uma oportunidade de ganharmos um dinheirinho extra.
Vivíamos numa dureza de dar dó.
Naquela época quase todos fumavam e não tínhamos dinheiro nem para o cigarro.
Como, onde e quando faríamos isso?
A antiga faculdade, onde ficava a reitoria, era no centro da cidade e estava em reformas.
Tivemos a ideia de fazermos a festa no pátio e para isso fomos conversar com o Reitor, Mario Palmerio, para solicitar a licença e alguma ajuda para nosso intento.
Ele nos recebeu, solicito e bonachão, nos autorizando de imediato e ainda oferecendo o serviço do pessoal da reforma, que utilizando madeira da obra, confeccionou as barraquinhas de prendas e jogos, tão características dessas festas. Conseguíramos, numa  conversa bem engendrada e muita cara de pau, muito mais do que pretendíamos.
Fizemos um tablado de madeira e contratamos um grupo folclórico de “Catira” (É uma dança típica do interior do Brasil, principalmente na área de influência da cultura caipira, Mato Grosso, norte do Paraná, Minas Gerais, Goiás e interior de São Paulo) e uma dupla de violeiros. Eu nunca tinha visto essa dança e nem conhecia direito a musica caipira de raiz. Naquela época ainda não havia surgido o sertanejo com guitarras e muito menos o sertanejo universitário.
O sertanejo que eu conheci era aquele  das duplas caipiras de viola e acordeon.
Achei fantástico!
Tudo arranjado, chegou o dia! A festa foi um estrondoso sucesso!
Nos divertimos a valer. A bebida era muita, cachaça, quentão e cerveja, vendidas na barraquinha própria, assim como os salgados.
Tínhamos barracas de pescaria, argolas, tiro ao alvo com bolas de tênis, todas com seus prêmios,  e uma cadeia onde prendíamos os participantes, que compravam sua saída com alguns trocados.
No decorrer da festa, eu já com o teor alcoólico bastante alterado, me vi preso nessa cadeia, com uma garota da minha sala, com quem já vinha conversando há algum tempo.
Nessas conversas eu falava da minha paixão de Beagá e ela me contava da sua, da cidade de onde viera. Iniciávamos uma carinhosa amizade, onde trocávamos confidencias.
Presos os dois naquela cela, excitados pela animação da festa, cabeças meio enevoadas e carentes, trocamos espontaneamente um longo beijo e não nos desgrudamos mais naquela noite. 
Agora sim, eu definitivamente estava em Uberaba. 
E como Uberaba era bom!

(Continua no próximo capitulo)

Pra quem não conhece e quiser conhecer o que é Catira e a pura musica sertaneja de raiz, assista ao vídeo e veja que delicia que é:



Imagem: Praça Rui Barbosa - Uberaba - MG


quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Causos de Minas XXIII – Modernidades


Como eu já disse por aqui em outras oportunidades, o pessoal que mora no interiorzão fica prejudicado com relação as “modernidades” que aparecem nas cidades grandes.
O isolamento da roça propicia isso e cria situações pra lá de divertidas.

La em Catas Altas, bem no interior, em uma fazenda, moram uns conhecidos meus que tem um filho, caboclinho esperto, chamado Guaraci.
Estive lá por esses dias, pra ir a uma festa junina, muito comum por lá e o pai, Seu Antenor, me contou um caso que aconteceu com ele dias atrás.
Certo dia, a mãe entra na cozinha e pega Guaraci com uma cartela de Viagra na mão:
- Meu filho, o que você está fazendo com esse remédio?
- É qui eu tô codiarréia!
- Com diarréia? E quem te falô qui esse remedio é pra isso, minino??
- Uai, ocê mesmo! Onte di noite eu levantei pra í no banheiro e quando eu passei na porta seu quarto, ocê tava falano pro pai:
- Vai tomar Viagra pra ver se endurece essa merda homem!"

Falar o que, depois dessa?

Nesta mesma viagem, soube de outro caso, também acontecido nesta mesma época, por ocasião das festividades.
Uns primos de São Paulo foram passar as festas com os parentes na fazenda. Fato comum, pois a cidade fica cheia nesta época.
Alguns dias depois que chegou, estava lá o primo paulista esnobando com o primo minerim, se vangloriando com o que tinha ganhado de presente.
O primo da cidade, querendo se mostrar, falou:
- Primo, viu o que eu ganhei de presente? Um `Ipod`! Espetacular.
O primo caipira retrucou:
- Bão primo, muito bão!!bãodimais...
Aí o paulista perguntou:
- Você conhece? Ganhou um também??
- Ganhei isso aí tamém, uai.
- Mas, quem te deu?
- A prima.....tua irmã.
- E de que marca era?
- Sei lá, primo. Nóis dois tavaonti na cachueranadanu pelado. Eu cheguei por trás dela e incostei. Ela virou pra mim toda dengosa e falô: - Aí Pode! É bãodimaissssss, primo. Agora, si tem marca, eu sei não, aqui nóis conhece cum outro nome

É, nós aqui damos valor a outras coisas bem melhores de se lidar!

terça-feira, 14 de agosto de 2012

NOSSA LÍNGUA


Sinceramente eu me acho um bom contador de historias. 
Eu percebo que eu inicio um texto, dou uma recheada nele criando o cenário, dou prosseguimento à fala, crio um clima, ate levar ao clímax. Funciona.
Mas, dando mão a palmatória, meu português é bem ruinzinho.
Sempre fui acostumado a falar e não tenho inibições quanto a isso. No falar, a gente usa expressões idiomáticas, regionais e culturais, que nem sempre são aceitas na escrita. O falar errado chega a ser natural, inclusive com erros de concordância, muito comuns.
Não sei se para vocês as coisas funcionam assim, mas ao ouvir uma pessoa falando um português correto, completamente dentro das regras, a pessoa me soa pedante. Pode até não ser, mas que parece ser, parece!
Mas o escrever é difícil demais. Principalmente em português.
Confesso que nem olhei essa nova regra ortográfica, pois eu nem sei a velha.....
Para demonstrar a dificuldade do uso correto de nossa língua, publico este texto do qual desconheço a autoria e que tenho guardado já há algum tempo, dando exemplos da nossa fala extremamente viciada.
Viciada, com o uso de palavras diferentes, mas com o mesmo sentido.
O exemplo clássico é o famoso 'subir para cima' ou o 'descer para baixo'.
Mas há outros, como você pode ver na lista a seguir:

- elo de ligação
- acabamento final
- certeza absoluta
- quantia exata
- nos dias 8, 9 e 10, inclusive
- juntamente com
- expressamente proibido
- em duas metades iguais
- sintomas indicativos
- há anos atrás
- vereador da cidade
- outra alternativa
- detalhes minuciosos
- a razão é porque
- anexo junto à carta
- de sua livre escolha
- superávit positivo
- todos foram unânimes
- conviver junto
- fato real
- encarar de frente
- multidão de pessoas
- amanhecer o dia
- criação nova
- retornar de novo
- empréstimo temporário
- surpresa inesperada
- escolha opcional
- planejar antecipadamente
- abertura inaugural
- continua a permanecer
- a última versão definitiva
- possivelmente poderá ocorrer
- comparecer em pessoa
- gritar bem alto
- propriedade característica
- demasiadamente  excessivo
- a seu critério pessoal
- exceder em muito.

Note que todas essas repetições são dispensáveis.
Por exemplo, 'surpresa inesperada'. Existe alguma surpresa esperada?  
É óbvio que não.
Devemos evitar o uso das repetições desnecessárias, embora muitas vezes as usemos para reafirmar a intensidade do fato ( Para um contador de histórias eu as acho fundamentais)
Devemos ficar atentos  às expressões que utilizamos no nosso dia-a-dia.
Em ocasiões formais não podemos continuar caindo nesta armadilha, não é mesmo?





quinta-feira, 9 de agosto de 2012

As Vantagens dos 60 anos



Essa vai pros meus amigos e amigas que já estão ou já se aproximam desta idade da gloriosa pré-envelhecencia.

As Vantagens dos 60 anos

1. Já esta pouco se lixando para o curriculum e para as promoções na carreira.
2. Se por um acaso fizer parte de um grupo de reféns, serás o primeiro a ser libertado.
3. Ninguém te vai pedir para resgatar pessoas de um edifício em chamas.
4. Já ninguém te considera um hipocondríaco porque, agora sim, já está em condições para se sentir um doente.
5. Já não tem mais de se preparar para o longo e difícil caminho da vida, antevendo o futuro.
6. Finalmente, os descontos para o INSS começam a ser usados.
7. As suas articulações prevêem melhor as mudanças do tempo que os meteorologistas.
8. Os seus segredos estão seguros com os seus amigos – ou já morreram ou eles também já não se lembram deles.
9. A quantidade dos teus neurônios ativos chegou, por fim, a uma quantidade gerenciável.
10. Pode passar sem a tormenta da falta de sexo diário.
11. Quando fizer uma festa, os vizinhos já nem se sentem incomodados.
12. As roupas que você compra já não passam de moda.
13. O teu pecado mortal favorito passou da luxúria para a gula.
14. Corre menos, dirige com maior prudência, tem menos quedas e acidentes.
15. Faz menos figuras de idiota.
16. Sorri mais e só se ri daquilo que, realmente, tem graça.
17. Diz e faz o que te apetece sem te criticarem ou o considerarem irreverente.
18.Consegue apagar mais velas do seu bolo de aniversário, de uma só vez, do que quando era mais novo.
19. Já não ouve como ouvia...  Ainda bem!  
20. Depressa vai se esquecer onde você leu isso, mas isso também nem te importa.

***

Viram como tem muita coisa boa quando se atinge essa idade?
Mas agora falando sério, eu hoje penso como esse cara aqui, e confesso que estou vivendo bem melhor.

O valioso tempo dos maduros

"Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora.
Tenho muito mais passado do que futuro.
Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas.
As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral.
As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos'.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa...
Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade,
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade,
O essencial faz a vida valer a pena.
E para mim, basta o essencial!"
 
  Mário de Andrade


domingo, 5 de agosto de 2012

Causos de Minas XXII - O caipira e o juiz


Certa vez, lá em Frutal, cidadezinha do interior de Minas, chegou um novo juiz de direito com fama de muito severo.
O magistrado fazia questão de demostrar sua raiva aos que aproximavam com intuito de agrados calculados à sua pessoa.
Quando um desses, popularmente conhecidos por puxa-sacos, chaleiradores ou baba ovos se aproximavam, uma indignação se apropriava daquela autoridade e logo uma seqüência de composturas eram derramadas sobre o bajulador e todos que estavam em volta. Não escapava um! O homem virava bicho!
Deu-se, porém, que Seu Argemiro, um caipira do lugar ansiava por uma sentença num processo seu, relativo a uma questão de terras
Inconformado com a lentidão da justiça e sem acreditar nadinha naquela historia de que ela tarda mais não falha,  o caipira viu como única solução para aquela sua pretensão fazer um agradinho ao juiz.
Dirigiu-se ao escritório de seu advogado e falou-lhe do pretendido:
- Doutô Ariosvaldo, eu andei  conjuminando umas coizinha e eu acho que tarvez a mio solução praquele meu processo andá, seria mandá um presentim pro home. Mió dizeno, doutô, tava pensano em mandá um leitãozinho pro meritíssimo....
Ouvindo aquela insensatez, o advogado passou-lhe uma carraspana e relatou-lhe, incisivamente, que o juiz era uma fera e perdia totalmente a razão diante de tais atitudes, principalmente como aquela que ele queria tomar.
O Seu Argemiro ouviu tudo humildemente e bateu em retirada para sua roça.
Passado um mês, a tão esperada sentença saiu como o caipira desejava.
Sem tirar nem pôr. Ganhou tudo que pediu! Sentença rápida!
Tendo conhecimento da mesma, seu advogado imediatamente foi ao encontro do seu cliente, lá na sede da fazendinha, para lhe contar a vitória.
Sentou-se à beira do fogão de lenha, tomou um cafezinho, comeu uma broa de fubá, comeu um queijinho fresquinho, tomou uma pinguinha e depois de todo suspense disse a que veio:
- Seu Argemiro, o caso deu muito trabalho, tive que usar de muita lábia, muita prosopopéia, mas o juiz nos deu o ganho de causa. Ganhamos a pendenga!
Logo que o advogado terminou o relato, o caipira mais exclamou do que qualquer outra coisa:
- Pois é, doutor, valeu a pena intão eu tê mandado o leitãozito! Eu queria vê se essa saliva toda ia funcioná sem o agrado!
Com uma tremenda cara de espanto o advogado, novamente, asseverou sua voz para o caipira:
-  Eu não acredito que você mandou o leitão para o juiz!
O Seu Argemiro prontamente lhe respondeu:
- Ora se mandei! Mandei sim e com um bietim muito do educadim, mas em nome da parte contrária.

Ouvi dizer que depois dessa, o Doutor Ariosvaldo sempre dá jeito de fazer uma visitinha pro Seu Argemiro toda vez que tem um caso mais complicado. Com certeza deve ser pra traçar a estratégia de defesa, né?

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