Tela do artista plástico moçambicano Antero Machado.

Tela do artista plástico moçambicano Antero Machado.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Amor aos pedaços - Blogagem Coletiva



Eu me casei por causa da vontade imensa de constituir uma família.
Eu gostava da minha vida de solteiro. Mesmo apaixonado eu sempre preservei minha liberdade pessoal, minha identidade.
Mas eu sempre achei que a vida é feita de fases e todas elas devem ser plenamente vividas.
Tanto que me casei em onze de dezembro e no dia nove de dezembro do ano seguinte nascia minha primeira cria. Sensação indescritível.
Acompanhei todo o pré natal, ia a todas as consultas, me tornei amigo do ginecologista.
Combinamos que eu assistiria o parto. Eu estava euforico.
Gravidez tranqüila, mulher jovem, saudável, ancas largas, boa parideira.
No dia seis de dezembro fizemos o que seria a ultima consulta em seu consultório, tudo dentro da normalidade, bebê bem posicionado prenunciando um parto tranqüilo.
No dia oito, por volta das vinte duas e trinta, minha mulher me chama e diz que começou a sentir as primeiras contrações e as dores do parto. 
Eu nestas horas sou um cara extremamente calmo. 
Sou o sujeito ideal para esta junto em horas de crise.  Fico perfeitamente lúcido, raciocínio rápido, eficaz nas ações. Fico focado.
Liguei para o medico e ele me disse para medir o tempo entre as contrações. Medi e tornei a ligar. Ele me disse que ainda demoraria e quando os intervalos estivessem dentro de um parâmetro que ele estipulou, que eu ligasse de novo.
Fomos deitar. De vez em quando a gente media os intervalos. Lá pelas três e meia da manha as contrações atingiram o intervalo estipulado e eu tornei a ligar. Ele me orientou para que nos dirigíssemos ao hospital e de lá, após a admissão,  tornasse a ligar.
Admissão feita, iniciaram-se os exames, mediram a dilatação e eu me comunicando com o medico fui orientado a ficar tranqüilo que ele já estava a caminho.
Só aí liguei para a família e liguei pessoalmente para minha cunhada, esposa de meu irmão, medica pediatra, dizendo que eu gostaria que ela estivesse presente, pois a partir do nascimento ela assumiria os cuidados com o bebe que iria nascer. Não havíamos nos interessado em saber o sexo, pois para nos, qualquer que fosse ele seria muito bem vindo.
Queríamos filhos saudáveis, apenas isso. Quanto a isso, confesso que estava extremamente ansioso. Que bichinho sairia dali?
As sete horas chega o médico. Imediatamente após a sua chegada, feito um exame preliminar, ele me disse que o bebê havia virado e estava assentado, em posição completamente desfavorável ao parto natural. Nessa hora me bateu um desespero. Como assim? Assentado? Como ele virou? Eu não havia me preparado para isso.
Definida a cesárea, nos encaminhamos para a sala de parto.
Olhei em volta, ninguém. Cadê meu povo?
Respirei fundo e fui acompanhando a maca pelos corredores, passando tranqüilidade a mãe de primeira viagem, conversando, fazendo carinho, feições tranqüilas, e por dentro um turbilhão de apreensões. Eu estava desesperado. 
Me bateu um medo como nunca tivera antes. E se nosso filho tivesse alguma deformidade, alguma anomalia, como eu reagiria naquele momento?
Já no bloco cirúrgico, vestindo os paramentos para acompanhar a cirurgia, com o fiofó na mão, me corroendo de angustia, vejo chegar minha cunhada, grávida de oito meses, vindo diretamente ao meu encontro.
Nem a cumprimentei, soltei um “graças a Deus” e pedi que ela acompanhasse o parto.
Despedi da minha esposa e me desfiz imediatamente de toda a paramentação, me dirigindo ao corredor do bloco cirúrgico, onde aguardaria o desenrolar.
Me borrei todo! Amarelei! Nervos a flor da pele!
Eu me tornei o protótipo do pai virgem, andando de um lado para o outro, olhar distante, descabelado, roendo as unhas, inquieto.
Quarenta minutos após, a porta se abre e dela sai uma enfermeira  tendo em mãos uma trouxinha.
Ela se vira para mim, estende as mãos e diz: - Você é o pai?
Até hoje eu me lembro como se fosse agora.
Peguei em mãos aquela trouxinha, parecendo um casulo, e imediatamente desenrolei.
Eu queria ver tudo, contar braços, pernas, dedos.
Quando eu desenrolei tudo, imediatamente o neném levantou as pernas e as colocou ao lado da cabeça, numa posição de rã, uma sapinha.
Levei um susto tremendo. O que era isso? Porque aquilo?
A enfermeira prontamente me diz que aquilo era perfeitamente normal devido a posição que o neném se encontrava na barriga da mãe e logo logo ele assumiria uma postura natural.
Imediatamente me acalmei e só então pude perceber o que aquela postura me evidenciara.
Eu vira uma pererequinha. Era uma menina!!!!
A partir daquele dia eu passara automaticamente a ser, alem de consumidor, fornecedor!
Foi um momento de puro encantamento
Meu coração quase parou naquele momento, minha vida nunca mais seria a mesma.
Foi uma transformação imediata, onde eu traçara um novo norte.
Eu a partir daquele instante, nunca mais seria um só. Aquela linda criatura que eu tinha em minhas mãos era um pedaço de mim.
Iniciara-se uma nova fase da minha vida
Foi ali o inicio de uma felicidade inimaginável, que perdurará até o fim de meus dias.
Um pedaço considerável do amor que me move até hoje!

Este post faz parte da Blogagem Coletiva " Amor aos Pedaços" organizada por:





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