Tela do artista plástico moçambicano Antero Machado.

Tela do artista plástico moçambicano Antero Machado.

domingo, 5 de agosto de 2012

Causos de Minas XXII - O caipira e o juiz


Certa vez, lá em Frutal, cidadezinha do interior de Minas, chegou um novo juiz de direito com fama de muito severo.
O magistrado fazia questão de demostrar sua raiva aos que aproximavam com intuito de agrados calculados à sua pessoa.
Quando um desses, popularmente conhecidos por puxa-sacos, chaleiradores ou baba ovos se aproximavam, uma indignação se apropriava daquela autoridade e logo uma seqüência de composturas eram derramadas sobre o bajulador e todos que estavam em volta. Não escapava um! O homem virava bicho!
Deu-se, porém, que Seu Argemiro, um caipira do lugar ansiava por uma sentença num processo seu, relativo a uma questão de terras
Inconformado com a lentidão da justiça e sem acreditar nadinha naquela historia de que ela tarda mais não falha,  o caipira viu como única solução para aquela sua pretensão fazer um agradinho ao juiz.
Dirigiu-se ao escritório de seu advogado e falou-lhe do pretendido:
- Doutô Ariosvaldo, eu andei  conjuminando umas coizinha e eu acho que tarvez a mio solução praquele meu processo andá, seria mandá um presentim pro home. Mió dizeno, doutô, tava pensano em mandá um leitãozinho pro meritíssimo....
Ouvindo aquela insensatez, o advogado passou-lhe uma carraspana e relatou-lhe, incisivamente, que o juiz era uma fera e perdia totalmente a razão diante de tais atitudes, principalmente como aquela que ele queria tomar.
O Seu Argemiro ouviu tudo humildemente e bateu em retirada para sua roça.
Passado um mês, a tão esperada sentença saiu como o caipira desejava.
Sem tirar nem pôr. Ganhou tudo que pediu! Sentença rápida!
Tendo conhecimento da mesma, seu advogado imediatamente foi ao encontro do seu cliente, lá na sede da fazendinha, para lhe contar a vitória.
Sentou-se à beira do fogão de lenha, tomou um cafezinho, comeu uma broa de fubá, comeu um queijinho fresquinho, tomou uma pinguinha e depois de todo suspense disse a que veio:
- Seu Argemiro, o caso deu muito trabalho, tive que usar de muita lábia, muita prosopopéia, mas o juiz nos deu o ganho de causa. Ganhamos a pendenga!
Logo que o advogado terminou o relato, o caipira mais exclamou do que qualquer outra coisa:
- Pois é, doutor, valeu a pena intão eu tê mandado o leitãozito! Eu queria vê se essa saliva toda ia funcioná sem o agrado!
Com uma tremenda cara de espanto o advogado, novamente, asseverou sua voz para o caipira:
-  Eu não acredito que você mandou o leitão para o juiz!
O Seu Argemiro prontamente lhe respondeu:
- Ora se mandei! Mandei sim e com um bietim muito do educadim, mas em nome da parte contrária.

Ouvi dizer que depois dessa, o Doutor Ariosvaldo sempre dá jeito de fazer uma visitinha pro Seu Argemiro toda vez que tem um caso mais complicado. Com certeza deve ser pra traçar a estratégia de defesa, né?

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