Tela do artista plástico moçambicano Antero Machado.

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domingo, 10 de abril de 2011

Papo de Buteco 45 - A pescaria 2



Num buteco, a gente sempre acaba se envolvendo com os fregueses.
A convivência é constante e você passa a conhecer um pouquinho de cada um.
Alguns são mais abertos, mais chegados e nos contam aspectos de sua vida, negócios, trapalhadas. Outros já são mais discretos e não abrem sua intimidade.
Outro dia, o Ariosto, um destes que não se abrem, chegou ao Buteco e cabisbaixo sentou-se a uma mesa de canto. Pediu uma cerveja, alguma coisa para beliscar e ficou por ali, quieto, macambúzio. Ele e seus botões.
Depois de um certo tempo, fiquei incomodado com aquilo e fui a sua mesa puxar um papinho. Agradar a freguesia, sabe como é.
Conversa vai, conversa vem e ele nada de se abrir. Deixei a coisa fluir, pois num buteco a gente nunca pode ser indiscreto e se intrometer na vida alheia. Perde-se o freguês.
Eu conversava e ele monossilábico. O papo estava ficando difícil, quando de repente ele me disse:
- Cara, tou arrasado!
E eu como não quer nada:
- Arrasado? O que é isso, logo você tão alto astral....
- É, disse ele, mas me aconteceu uma lá em casa que até hoje me deixa para baixo.
Para o sábado passado, marcamos uma pecaria, eu, o Zeca, o Chico e o Damião.
As nossas mulheres ficam mordidas de raiva com essas pescarias. A gente vai, se diverte e elas ficam em casa com as crianças. Mas sabe como é, coisa de homem, né?
No dia marcado, nos encontramos e fomos direto pro nosso rancho de pesca, em Três Marias. Desembarcamos as tralhas, arrumamos o barco n’água e partimos pro crime.
Depois de algum tempo, o Damião levanta a lebre:
- Você não faz idéia do que eu tive q fazer para poder vir pescar. Eu tive que prometer à minha mulher que eu pintaria a casa inteirinha no próximo fim de semana.
O Chico disse:
- Isso não é nada! Eu prometi à minha mulher que eu construiria uma piscina no fundo de casa, pra ela tomar um solzinho no fim de semana.
E o Zeca já retruca:
- Vixi, foi muito fácil para vocês! Eu tive que prometer que iria remodelar toda a cozinha para ela. Fogão e geladeira novinhos.
E o Ariosto continua:
Nós continuamos a pescar, até que eles perceberam que eu não tinha dito nada. Eu não tinha me manifestado. Então eles decidiram perguntar o que foi que fiz para que fosse possível ir à pescaria:
- O que foi que você prometeu à sua mulher?, perguntaram-me
Eu não tendo como fugir da pergunta, falei:
Eu sabia que a Clarinda não gosta de nossas pescarias. Passei a semana sem tocar no assunto. Pus o meu despertador para me acordar as 5:30 da manhã de sábado.
Quando o alarme tocou, eu dei um toque com o cotovelo na minha mulher e disse:
- Pescaria ou Sexo selvagem?
E ela imediatamente me respondeu:
- Leve um agasalho.

Eu, como dono de buteco experiente, já levantei a mão chamando o garçom:
-Maneco, traz outra gelada pro Ariosto!
Eu ia falar o que?

imgem: Google 

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