Recebi na semana passada a ligação telefonica de uma colega de faculdade me convidando para o nosso encontro de 35 anos de formados.
Confesso que passou um filme em minha cabeça e ele foi extremamente reavivado quando recebi o convite de ingressar na pagina da turma no facebook. A ultima vez que eu tivera contato direto com eles foi em 97, nosso ultimo encontro.
Resolvi então continuar a contar as "Delicias da minha juventude" ( pra quem quiser ver ou rever o inicio da serie clique aqui ) pulando o ano de 1970 e indo direto ao ano que consegui o meu ingresso na faculdade.
Vou tentar contar algumas peripecias de meus anos de faculdade cronologicamente, embora as lembranças me venha em roldão. Certamente agora contarei com a ajuda de varios desses colegas e amigos, que me ajudarão a relembrar os fatos.
Em 70 eu prestei vestibular na federal em Belo
Horizonte e não passei. Nem poderia!
Eu havia terminado o terceiro ano em 69 (durante o
serviço militar, que já contei um pouco por aqui nos “Delicias” anteriores),
ano em que passei sem praticamente estudar devido as circunstancias e trabalhara durante todo o ano de 70, no inicio no mercado de capitais como operador de Letras de Cambio e no segundo semestre se prolongando até o final de 71 ajudando
um amigo de infância, que montara um sebo e precisava de alguém que o ajudasse
na Livraria. Como eu adorava ler e tinha disponibilidade, alem da grande amizade que nos unia, fui uma opção natural.
Ano fantástico esse, onde, apesar de não receber nenhum pagamento pelo
serviço, que chegava a ser de dez doze horas/dia, se transformou em um dos anos
de maior alegria e crescimento pessoal. O meu amigo me pagava de uma forma
pitoresca.
Se ele ia mandar fazer uma calça, por exemplo, ele me levava junto e mandava
fazer uma para mim. Naquela época ainda não usávamos as calças jeans, raras por
aqui, mas mandávamos fazer nossas calças em lojas modernas que faziam calças
sob medida, em panos de brim, coloridos, de cós baixo (15 cm) e bocas largas.
As tais “bocas de sino”, apertadas até o joelho e com bocas que cobriam os pés
(Tive uma feita com pano de colchão, daqueles de capim, listrado de azul e
branco, que me assombra até hoje).
Se saiamos a noite, e ele visse que eu
estava de papo com alguma garota, ele discretamente vinha e colocava uma grana
no meu bolso, para garantir a noite.
Quer um trabalho melhor que esse?
Alem disso eu tinha acesso livre a qualquer livro
que aparecesse na loja, e eu, como rato de livro que era, me esbaldava. Tive
acesso aos mais diversos autores e, o mais importante, a toda literatura de vanguarda
que pipocava na época. Li de tudo! Expandi a mente!
Neste ano de 71 tiveramos um inicio de ano, até fins de março, muito atribulado, chegando a trabalhar até 16 horas por dia na epoca de inicio de aulas, ficando por vezes até sem almoçar.
As vendas e trocas de livros usados era tanta, que a caixa registradora enchia e não tinhamos onde por o dinheiro, colocando-o em caixas de papelão, arrumados em pacotes presos com aquelas gominhas de banco. As caixas enchiam e eram empilhadas no deposito. Sério, isso ocorria mesmo! Nunca vimos tanto dinheiro vivo em nossas vidas.
Quando fechavamos a loja, tinhamos ainda que arrumar todo estoque e só depois, pediamos um frando assado num restaurante perto. Essa era toda nossa alimentação do dia.
Chegando o mes de julho, meu “patrão” me
disse: - Vamos viajar?
E eu falei: - Pra onde?
Ele respondeu: - Tou com vontade de ir a Salvador,
vamos?
E eu: Como?
Ele: - Deixa comigo, é por minha conta!
Fomos e passamos o mês inteiro por lá! Trinta dias
de pura farra!
Dias memoráveis, dolce far niente, natureza e mulheres lindas, peripécias que depois em uma outra oportunidade
eu conto por aqui esse meu ano 71!
Mas voltando ao vestibular, depois do que eu já
disse, vocês já viram que passei praticamente dois anos sem estudar e seria
muito difícil eu ser aprovado.
Como eu tinha uma base até bem razoável, eu resolvi
tentar também o vestibular fora, já para o ano letivo de 73. Fiz, portanto, a
inscrição para Beagá na Federal e para Uberaba, no triangulo mineiro, na Uniube, escola particular.
Chegando lá, feito o vestibular, fiquei um pouco sem esperanças, pois fiz as provas somente com o conhecimento que eu tinha adquirido no ensino médio. O vestibular de Uberaba era completamente diferente de tudo que eu tinha estudado para as provas da Federal.
Apostei mal, e me ferrei. Sai de lá com esse pensamento.
Chegando lá, feito o vestibular, fiquei um pouco sem esperanças, pois fiz as provas somente com o conhecimento que eu tinha adquirido no ensino médio. O vestibular de Uberaba era completamente diferente de tudo que eu tinha estudado para as provas da Federal.
Apostei mal, e me ferrei. Sai de lá com esse pensamento.
Sai o resultado. Não passei!!!! Nem em Beagá e nem
lá!
Logo depois, me ligam de Uberaba falando que a
primeira lista que saíra fora anulada e que na segunda lista o meu nome
constava. Quase cai para trás! Eu fora aprovado!
Agora era largar toda minha vida por aqui, mudar-me
para o interior e me adaptar a nova vida. Confesso que quase não fui. Eu tinha
uma namorada já há dois anos e eu era profundamente apaixonado. (Para quem
ainda não sabe, eu sempre fui dado a grandes paixões e ate hoje padeço deste
mal. Eu me entrego e quase sempre me estrepo. Triste sina!)
Com ela eu desenvolvera meu lado artistico e fazia artesanato e pinturas a oleo, que vendia na Feira de Artesanato da Praça da Liberdade, onde fui um dos artistas que iniciaram o projeto. Isso mesmo! Eu era artista plastico credenciado e de carteirinha.
Alem disso, tinha toda a minha turma de amigos, forjada desde a infância, que nos encontrávamos quase que diariamente numa das esquinas do bairro, onde fazíamos ponto. Éramos quase trinta e todas as minhas experiências de vida, até aquela época, foram adquiridas em compartilhamento com eles. Era um aprendizado de “osmose”, adquirido em trocas e convivência. Viviamos! Todos tínhamos uma criação e educação familiar semelhante, mas a vivencia de rua, principalmente àquela época de grandes transformações sociais, fora construída na experimentação. Acerto e erro. E muita discussão e muita troca.
Alem disso, tinha toda a minha turma de amigos, forjada desde a infância, que nos encontrávamos quase que diariamente numa das esquinas do bairro, onde fazíamos ponto. Éramos quase trinta e todas as minhas experiências de vida, até aquela época, foram adquiridas em compartilhamento com eles. Era um aprendizado de “osmose”, adquirido em trocas e convivência. Viviamos! Todos tínhamos uma criação e educação familiar semelhante, mas a vivencia de rua, principalmente àquela época de grandes transformações sociais, fora construída na experimentação. Acerto e erro. E muita discussão e muita troca.
Agora eu teria de largar isso tudo, sair da minha
zona de conforto.
Eu teria que amadurecer e crescer por outras
bandas.
Fui!
(Continua no proximo capítulo)