O mineiro tem umas características bem interessantes e uma delas é o falar cheio de volteios. Ele fala tudo que quer, mas ele nunca fala nada diretamente. Ele deixa a entender. Ele se utiliza de metáforas, conta “causos” pra falar o que pensa e tem sempre uma conversa cheinha de entrelinhas.
Pra quem é de fora, fica difícil entender essas conversas. Eles nunca acreditam na inteligência e na esperteza da mineirada, quase sempre encobertas por essa conversa meio atravessada.
Deixa eu dar aqui um exemplo de como age esse nosso caboclinho.
Aconteceu lá no ermo, numa lonjura de dar dó, o caboclo viaja o dia inteiro em lombo de mula e chega à noitinha no sítio do compadre, onde vai se hospedar.
Quando chega, o compadre já havia jantado, como é o costume do pessoal da roça de jantar bem cedo.
Cróvis, o caboclo, sem comer o dia todo, chega morrendo de fome, estomago roncando e nada do compadre lhe oferecer comida.
Pedir ele não vai, isso não fica bem.
Os dois "garram" numa prosa, agachadinhos em frente da porta da casa, enrolando e pitando uns pito de fumo de rolo e palha de milho, conversam de tudo, mas nem sinal do compadre falar em jantar.
Comida que é bom....nadinha.
E a prosa prossegue, interrompendo alguns períodos de silencio:
- Ô Crovis, cê qui viaja muito, u quê quiocê acha desse negóço de nudez? pergunta o compadre.
No que o Crovis respondeu:
- Acho bão dimais, sô!
O compadre ficou assim, pensativo, meditativo...e perguntou de novo:
- Ocê acha bão purcaus diquê?
E o outro:
- Uai! É mió nudês do que nu nósso, né mesmo?
-Ara, se num é! Cê besta?!?
E o Crovis prossegue:
- Eu tive outro dia la na cidade grande a coisa ta feia. Cheio de homi afrescalhado. Tava eu mais Maricotinha e os minino tudo, os 11, na rodoviária e eu fui fazê xixi. Entrou na casinha junto comigo um camarada, que chegou pra mim com uma conversa besta e me perguntou:
- Pôxa mas o senhor tem uma prole grande hein?
No que logo eu respondi, já guardando os trem e saino fora:
- Oia moço se é grande eu não sei não, mas que tá sempre durinha tá.....
- Assim qui é bão, né? Diz o compadre – Tamanho não é dicumento, bão mesmo é o bicho de pé!
Novo silencio....
O Crovis puxa mais um traguinho no pito de paia e pergunta:
- E as nuvidade por aqui cumpadi?
- Tem muita não! Só a fia do Zé Bento, a fia mais veia qui foi imbora de casa pra tentar a sorte na capitá. Adespois de muito tempo, ela teve aqui de vorta pra visitá a famía, e chegô num carro úrtimo tipo, com casaco de pele daqueles chique, colar de pérola, numa finura só, cheia de espalhafato. Chamô atenção de todo mundo cum aquela pose de madama.
O Cróvis se espanta:
- Uai, mas ela saiu daqui c'uma mão na frente e outra atrais. Cumé que ela conseguiu isso tudo?
- Ara! Ela tirou a mão da frente, uai!
Fez-se novo silencio, um pita de lá o outro de cá, e nada do compadre oferecer nadica de comer. Cróvis já tava inquieto.
O compadre muda de assunto:
- Cê acredita que outro dia teve aqui um espertalhão da cidade, achando que eu pro mode dessa cara de matuto num sabia quanto vale a terrinha por aqui e veio com uma conversa mole tentando me passa a perna. Ele falou assim pra mim:
- Estou interessado em lhe dar dez mil reais por sua terra!
-Fedazunha, disse o Crovis – E ocê falo o que pra ele?
- Que bão, seu moço! Eu falei – Vendo sim! Traiz aí seu carrinho de mão que eu encho ele tudinho pro sinhô...
Embora faminto, Crovis deu boas risadas com a saída esperta do compadre.
E a conversa foi de adentrando, já era nove da noite, o dono da casa já revirando os olhos de sono, doidinho pra ir pra cama, que esse horário pra um caboclo já é alta madrugada e o Crovis vai puxando assunto, na esperança ainda do compadre lhe oferecer alguma coisa.
Um com sono, louco pra ir dormir, o outro, azul de fome, sonhando em comer.
Eis que, o anfitrião, com muita diplomacia, toma a iniciativa:
- O cumpádi qué lavá os pé pra durmí?
- É bão, né cumpádi... mai... será que num faiz mal lavá os pé de barriga vazia?...
Esses caboclos.......
Oi, Lufe!
ResponderExcluirComo eu gosto de ler estas prosas de mineirins!
Li tudo em voz alta e com entonação para sentir melhor. adorei!
abraços cariocas
Rs...Que gracinha o mineirês!
ResponderExcluir"Fedazunha" é o que, Mr. Doce de Leite? Não entendi.
Mondibejo.
Oi Beth
ResponderExcluirDesse modo a prosa faz mais sentido, né?
Que bom que gostou....
bjo procê
Miss Moon,
ResponderExcluirÉ o FDP em minêres.......rsrsrs
mondibejo procê tamém
Lufe, esse converse cheio de rodeios e espertezas também tem muito entre os caboclos nortistas, principalmente os praianos (que conheço de perto), são perigosos rsrsrs.
ResponderExcluirUm sábado animado p/ vc!
Ternurassssss
Deliciosa narrativa, Lufe! :))
ResponderExcluir(O seu buteco continua pleno de vida e frescura)
Abraço
rsrs...Essa é boa, fazer mal lava os pés de barriga vazia?Esse "causos" são ótimos Lufe!
ResponderExcluirAdoro teu buteco.
Mas será que tu tem um cafezinho aí?Será que não faz mal a gente entra aqui e ler teus contos de barriga vazia?hahahahaha
Bom fds,querido
Bjka
Eu adorei!!
ResponderExcluirRi muito!!
Como sempre, vir aqui é uma delícia! =)
Bjs
Adoro passar por aqui!
ResponderExcluirinaier.blogspot.com
Huuuuuuuuuuuummmmmmmmmm...saquei.
ResponderExcluirPreciso de um cursinho intensivo, Luiz Fernando. Como proceder?
:p
Beijo, beijo.
Miss Moon
ResponderExcluirPosso te indicar um profissional no assunto, eficiente e discreto, que poderá suprir esse desejo.
Ele atua como PTAML (Private Teacher in Application of Mineirês Language), tendo vasta experiência na área.
Ele tem disponibilidade para aulas diária, diurnas e noturnas, dependendo da vontade ou necessidade, em local próprio ou na residência da aluna.
Assim você poderá perceber de forma marcante as nuances, a sensualidade, o alcance e a performance desse uso da língua de maneira tão eficiente pelos mineiros.
Posso te afirmar que as alunas vão ao delírio com as aulas performáticas ministradas por ele.
;)
Bjocas procê
Alexandre,
ResponderExcluirQuer dizer que você conhece o fedazunha.....rsrsrs
Que bom que gostou
não acho que tenho essa capacidade não......
abraços
Lufe, mais uma vez dei uma passada no seu buteco. Não para beber porque não tenho o hábito de faze-lo, mas sim, passei para apreciar esse belo causo que nós mineiro adoramos e bem isso, preferimos sermos confundidos com bobos. Não é verdade?
ResponderExcluirParabéns pelo blog, esse é um daqueles que vale a pena seguir.
Abraço
Ui! Me passa o contato, por favor, Luiz Fernando!
ResponderExcluirTá, "me passa o contato" teve um tom sacana, admito...ahahahahaha
Beijoconas master, moço querido.
J Araujo
ResponderExcluirVolte sempre..
abraços
Miss.
ResponderExcluirO sorriso de malicia estava estampado na frase....rsrs
Pode deixar que eu "passo".....=D
bjocas procê
amei!gosto muito das historias de mineiro
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