O pedreiro!

Genésio, nascido na roça,  veio pra capital tentado se empregar. 

Sem formação acadêmica, arrumou vários tipos de emprego, office boy, porteiro, auxiliar de despachante e alguns outros. Em todos se sentia preso, tolhido, pois por onde passava, via todas aquelas belezuras, mulheres lindas, de um tipo a que ele não estava acostumado. 

Mulheres confiantes, bem tratadas, bem vestidas com roupas sensuais. 

E ele não podia falar nada, não podia lhes dirigir um galanteio, assim são as convenções sociais.  Ele era um nada! Como poderia ousar se dirigir a elas? 

A sua frustração crescia e ele se sentia engasgado, com um bolo entalado no gogó. 

Um dia, quando se dirigia a uma fila de banco (ô empreguinho safado) ele passou diante de uma construção e observou o pessoal a trabalhar. Veio a luz!!!! 

Ele resolveu ser pedreiro. 

Só pra ficar nos andaimes mexendo com as mulheres que passavam.

“Isso é que é emprego!”, dizia êle!
Entra dia, sai dia, lá esta êle no alto do andaime apreciando aquele montão de formosura que passa diante da obra. 

E tasca galanteio:

- Não sabia que flor nascia no asfalto
- Você tá igual melancia na roça, tá rachando de boa!!!!!
- Aê mina, ôce num é faquir mas  encantou minha serpente…
- Você é o ovo que faltava na minha marmita
- Ô mina, você é ‘fia’ de mecânico? Porque você tá com as ‘peça’ tudo no lugar…’
- Ôhh essa muié e mais um saco de bolacha, eu passo um mês.
-  Você é a areia do meu cimento
- Você tem goiabada dentro da barriga? Porque você parece um sonho!!
- Tu é mais gostosa que polenta na marmita!!
- Você tá esperando ônibus? É que você tá no ponto, mina.
- O que que esse bombonzinho está fazendo fora da caixa??
- Nossa, quanta carne…. e eu lá em casa comendo ovo!
- Essa sua blusa ficaria ótima toda amassada no chão do meu quarto amanhã de manhã!
- Suspende as frita.... o filé já chegou!
- Aê cremosa... Vou te passar no pão e te comer todinha!!
- Ahhh se eu pudesse e meu dinheiro desse!
- Ocê num é pescoço mais mexeu com a minha cabeça!
- Ocê num usa calcinha, ocê usa porta-jóia.

Outro dia passei por lá e lá estava ele, feliz, sorridente, encontrara enfim o emprego dos sonhos! Em que outro lugar encontraria ele tamanha liberdade de expressão? 

Em que outro emprego ele poderia expressar de forma tão clara e direta toda a sua libido?
Onde, neste mundo, ele poderia de tal forma apreciar e se declarar ao seu objeto de desejo?

Encontrara em fim a liberdade que buscara!!!