Ariovaldo e Argemiro eram carne e unha.
Eles moravam em Piacatuba, distrito de Leopoldina, na Zona da Mata das Minas Gerais.
Os dois eram amigos, daqueles muito amigos, mais até mesmo que irmãos.
Eles se adoravam, tinham aquele amor e aquela admiração que só os homens tem um pelo outro. Para eles, nenhum tinha defeito
Quis a ironia do destino que Argemiro se tornasse um homem rico, riquíssimo, e Ariovaldo fosse pobre, pobre de marre de si.
Cada um dos dois era casado e tinham também três filhos cada um.
Eis que um dia, Ariovaldo morre.
Argemiro entrou em parafuso. O homem era puro desespero.
Ele chorava, gritava, se descabelava, se encolhia nos cantos murmurando coisas que ninguém entendia. De vez em quando se escutava: - Porque? Porque, meu Deus?
Ao pé do caixão, pouco antes de baixarem a tampa, Argemiro profundamente comovido e com a voz embargada faz uma promessa:
- Compadre, aqui nessa derradeira hora eu faço uma promessa. Nada há de faltar à comadre e aos seus filhos. O que meus filhos tiverem, o seus terão. Onde eles estudarem os seus estudarão. O que os meus comerem, os seus comerão.
E dito e feito!
No dia seguinte ele mandou o seu capataz arregimentar alguns homens e reformou uma das casas que tinha, ali na Rua da Igreja quase esquina com a Rua do Carmo.
Casa pronta, acomodou ali a comadre com seus três filhos.
Desde aquele dia nada faltou a eles. Casa, escola, roupas, comida. O que os dele tinham, os do Ariovaldo também. Saíram da pobreza para a fartura.
Um dia, já decorridos quase três anos do passamento do Ariovaldo para a melhor, já mais refeito do baque, o seu Argemiro resolve fazer uma visita para a comadre.
Saber como ela ia, como estavam os meninos.
Ao chegar a porta da casa, o Argemiro é recebido por uma mulher linda, aquelas formosuras de dar lagrima nos olhos.
Não é que a comadre, agora na fartura, tinha desabrochado, ficado viçosa, se enchera de carnes, cabelos sedosos, uma lindeza de doer.
Ela o recebeu de braços abertos, dando-lhe um abraço firme, caloroso, envolvendo-o em muitos abraços, apertando-o em seus seios fartos. Ela tinha cheiro de jasmim.
Argemiro, acanhado, cheio de dedos se esquivava.
A comadre toda serelepe, agradecida de montão, foi logo passar um café pra servir com broa pro compadre.
Conversa vai, conversa vem, ela toda alegre pela visita e ele arredio, olhando pra ela somente pelo canto dos olhos.
Postos os assuntos em dia, Argemiro se despede.
A comadre insiste que ele retorne sempre, pois as portas da casa estarão sempre aberta para o seu benfeitor.
Ao se retirar, Argemiro ainda meio acanhado, cabeça baixa, demonstrando toda a sua sengraçeza diz pra comadre num fio de voz:
- Eu fiquei muito feliz de ver como as coisas estão indo. O Ariovaldo era um grande amigo e eu vou cumprir minha promessa até o fim de meus dias, mas eu só quero que a comadre me faça uma promessa....
- Pode dizer compadre, minha gratidão é eterna.
E ele levantando os olhos, olhando bem pra ela, diz:
- No dia que a comadre arresorvé proceder mal, que me dê a preferência
Escutei esse causo no programa do Rolando Boldrin, (Que eu adoro) não sei se é de autoria dele ou de dominio publico.
Bom dia Lufe!
ResponderExcluirQuanta sutileza do amigo! E que amigooooooo???
Vendo a imagem de Saramago cliquei lá... Somos fã dele. No pessoal admirava a sua teimosia cética, acredito que Pilar conheceu um Saramago que ninguém conhecia, quem sabe um dia ela compartilhe...
Um excelente sábado p/ vc e família!
Beijosssssssssss
Bia,
ExcluirEu achei que o cumpadre foi ate gentil....rsrs
Saramago, assim como o Chico Anizio, alem da capacidade intelectual, tinham um espirito jovem e inquieto. Vê-se isso pelas mulheres que os acompanharam nos ultimos vinte anos de vida.
bjo procê
Olá amigo Lufe!
ResponderExcluirSempre bom estar por aqui e saio cheia de alegria no coração.
Acho que não vai ter jeito e vou virar freguesa.
Que maravilha de amigo. Uma promessa de compadre mesmo e claro que tem direito a preferência : D =D
Beijinhos e um bom final de semana
Irene,
ExcluirVocê é de casa e sempre bem vinda.
O cumpadre poderia ate reivindicar a primazia e exclusividade, mas como era um sujeito de respeito, pediu somente a preferencia....rsrsrs
bjos procê
Alexandre,
ResponderExcluirGosto muito do Boldrin. Ele nos mostra o Brasil simples, singelo, com a cultura e os valores marcantes do povo interiorano desse nosso Brasilzão. Ele cultiva os nossos bens de raiz.
abraços.