Existe uma região de Minas Gerais que é caracterizada pela pobreza extrema, é o nordeste do estado, o Vale do Jequitinhonha.
La falta de tudo, moradia, educação, trabalho, saúde.
São municípios muito pobres que não conseguem contratar médicos para assistência a população.
O Programa Saúde da Família, do Governo Federal é um modelo de assistência à saúde que desenvolve ações de promoção e proteção à saúde do cidadão, da família e da comunidade, em nível de atenção primária. Atendimento ambulatorial, que cuida de até 80% das necessidades de saúde. Mas acontece que os municípios não tem verba suficiente para a sua parcela de contribuição ao programa e não conseguem implantá-lo.
O Programa Saúde da Família, do Governo Federal é um modelo de assistência à saúde que desenvolve ações de promoção e proteção à saúde do cidadão, da família e da comunidade, em nível de atenção primária. Atendimento ambulatorial, que cuida de até 80% das necessidades de saúde. Mas acontece que os municípios não tem verba suficiente para a sua parcela de contribuição ao programa e não conseguem implantá-lo.
A gente brinca por aqui, brincadeira mórbida, que o melhor hospital da região, é a ambulância comunitária, comprada com a verba de algum deputado em época de eleições, que trazem os doentes para serem atendidos nos hospitais da capital. Um dos motivos pelos quais eles vivem lotados.
Se não forem criados centros regionais de saúde para interiorizar a média e alta complexidade da assistência medica, este ciclo vicioso nunca terá fim.
Mas eu estou falando isso, pois teve aqui outro dia no Buteco, um de nossos fregueses que foi visitar uma cidade desta região, em busca de terras para implantação de um agronegócio.
As terras nesta região são muito baratas.
As terras nesta região são muito baratas.
Assim que chegou, eu lhe perguntei da viagem e ele logo me respondeu:
- Desisti, a região precisa de muito investimento do governo para sair do estado de miséria geral. Não dá para produzir nada por lá, sem infraestrutura, não tem mão de obra básica.
- É tanto assim? Eu perguntei.
- É pior, disse ele. Lá não tem profissionais de nenhuma área e a ignorância impera. Não tem médicos, veterinários, farmacêuticos, ninguém que cuide da saúde dos homens e dos animais.
Para dar um exemplo deste miserê total ele me contou duas historias terriveis que eu repasso aqui agora para vocês.
Seu Hortêncio é um fazendeiro pobre e o seu rebanho estava doente e ninguém conseguia curar. O gado morria sob seus olhos. Ele desesperado!
Como não havia nenhum veterinário na região, ele então ficou sabendo que tinha um curandeiro, que era a única pessoa que poderia salvar seu rebanho e ele o chamou.
Chegando lá, o curandeiro disse que salvaria o gado do Seu Hortêncio, mas teria que ficar trancado no quarto com a filha mais nova dele, uma mocinha morena lindíssima, para ajudá-lo a fazer o ritual.
O Seu Hortêncio ficou meio desapontado, desconfiado, mas topou. Afinal, era o único jeito que ele tinha de tentar salvar seu rebanho.
O curandeiro, com uma vara na mão, foi sozinho para o quarto com a moça e começou a fazer seu ritual:
- Passo o pau nos seus peito pra curá os boi de jeito!
- Passo o pau nus seus umbigo pra curá os boi fugido!
- Passo o pau no seus joeio pra curá os boi vermeio!
- Passo o pau na suas coxa pra curá as vaca roxa!
- Passo o pau na sua viria pra curá as novia!
Seu Hortêncio, que estava ouvindo o ritual atrás da porta, gritou lá de fora mais que depressa:
- Péra aí seu moço, as vaca preta e os boi zebu ... cê pode deixá morrê...!!!
- Passo o pau nos seus peito pra curá os boi de jeito!
- Passo o pau nus seus umbigo pra curá os boi fugido!
- Passo o pau no seus joeio pra curá os boi vermeio!
- Passo o pau na suas coxa pra curá as vaca roxa!
- Passo o pau na sua viria pra curá as novia!
Seu Hortêncio, que estava ouvindo o ritual atrás da porta, gritou lá de fora mais que depressa:
- Péra aí seu moço, as vaca preta e os boi zebu ... cê pode deixá morrê...!!!
Num é que esse constrangimento se resolveria com um veterinário na região?
O outro caso quem contou foi o delegado de policia da cidade, que lhe relatou que apareceu na delegacia uma moçoila para registrar uma queixa.
O delegado registra a queixa onde moça, Maria das Mercedes, se dizia deflorada a força pelo namorado. Na ausência de médico na cidade, o delegado se encontrava impossibilitado de fazer uma pericia que comprovasse a alegação.
Sem outra opção, chamou a Parteira da cidade, afamada na região e lhe pediu um laudo, por escrito, para anexar ao processo.
Eis o laudo proferido pela “profissional” que foi juntado como prova:
"Eu, Maria Francisca da Conceição, parteira oficial do destrito de Jenipapo, declaro para o bem do meu ofício que, examinando os baixos fudetórios de Maria das Mercedes, constatei manchas arrôxicadas na altura da crica, que para mim, ou foi supapo de rola ou solavanco de pica. É verdade e dou fé."
Nota: Dizem que o segundo “causo”, o da Parteira, é verídico e ocorreu em Goiana, uma cidade do interior de Pernambuco
Imagem Google imagens
Oi Lufe,
ResponderExcluirEsse texto tráz uma triste verdade, mas com a tua dose especial de humor, mudou tudo...
Tadinha da vaca preta e boi zebu..rs
Imagina o constrangimento de um laudo desses..rs
Vc é muito bom!
Beijos
Lufe,
ResponderExcluirPode até ser piada, mas acontece isso e muito. Quem trabalha ou já trabalhou nos órgãos do Poder Judiciário sabe que o "pau que rola" é esse mesmo. Pode-se ler tudo isso nos autos dos processos... e você fica pensando que é piada.
O mesmo quando você vê tanta falta de infraestrutura num país tão rico e pensa que é piada, mas não é.
Beijos!
Abri o buteco!
ResponderExcluirBom dia!
Bom dia, Lufe
ResponderExcluirUma pitada de humor numa desigualdade social que faz parte de nosso país. Muito bom seu post, nos faz refletir e ficar ciente do quanto ainda precisa ser feito, mas amenizado pela simplicidade popular das situações. Parabéns ..beijo, com Deus e bem SEMPRE!
É hilário, porém, trágico.
ResponderExcluirLufe eu conheço bem essa região mineira. Já devo ter dito que morei em Minas Gerais por 10 anos. 8 anos em Montes Claros, Norte de Minas e mais 2 anos em Belo Horizonte.
Durante esse tempo conheci cerca de 400 município mineiros, ora trabalhando na minha profissão de comunicador de rádio, ou nos palanques políticos. Fui locutor da campanha de Itamar Franco ao Governo, em 1998, nas regiões do Jequitinhonha e Norte de Minas.
Foi nessas andanças políticas que pude sentir o problema de perto. Crianças catando barbeiros nas fendas das casas de adobe. Fome, miséria, prostituição infantil, falta de assistência médica e demagogia dos políticos locais. Profissionais de saúde (médicos) que cobram consultas com preços exorbitantes que aniquila de vez o desgraçado do paciente. Faltam esses profissionais no serviço público, entretanto, os consultórios particulares estão a cada dia crescendo. Sei que o profisiional tem que ganhar dinheiro, mas não precisa ser tão ambicioso, principalmente em locais de pobreza extrema como esses.
As administrações municipais são espúrias e ordinárias, com raríssimas exceções.
"Lhe dou uma cesta básia e você me paga com sua alma".
É assim que funciona.
Abraços.
Vida,
ResponderExcluirInfelizmente esta é a realidade desta região do meu Estado e de muitas outras por este pais a fora.
Mesmo dentro dessa miseria, alem do lado serio e da esposição de parte das feridas, a gente ainda encontra fatos que tem lá o seu humor.
bjos
Lily,
ResponderExcluirEu tenho um texto pronto, só de peguntas e respostas dadas em audiencias no tribunal.
Alem de tragico é hilario.
Um dia desses eu posto.
Quanto a esta miseria relatada, a gente sabe que não é prerrogativa de nosso país, na maioria dos paises do primeiro mundo isso tambem acontece.
Observe o que acontece no sul dos States. La tambem existem estes bolsões de pobreza.
É um fenomeno mundial, mas que não abranda o descaso do nosso Estado para com estes individuos.
bjo
Regina,
ResponderExcluirÉ um modo mais leve de se fazer uma denuncia. Mas tambem funciona.
Atravéz de uma brincadeira a gente lembra de um assunto muito serio que deve estar sempre presente na pauta das discussões politicas.
bjos
Guará,
ResponderExcluirVocê com conhecimento de causa (você esteve lá) descreveu bem o que ocorre ali.
E não é com bolsa família que se resolve isso.
É através de políticas publicas serias e de longo prazo, apartidárias, para que possa ter seqüência independente do partido que governe.
O resto é falácia.
um abraço
Ahahahahahahaha
ResponderExcluirImpagável, Lufe! Dei boas gargalhadas aqui!
Talvez a filha do Hortêncio quisesse muito que o curandeiro salvasse "as vaca preta e os boi zebu", né? Já que é pra fazer que se faça bem feito, uai!
:p
Beijos mil.
ℓυηα
ℓυηα
ResponderExcluirTambém concordo, se é pra fazer o serviço, que faça tudo direitim....e completo!
Deixá morrê logo as vaca preta que são tão bunitinha.....num pode tadinhas.
Os bois zebu, ainda vá lá, tem gente que num gosta, né?
bjo, guria
Ah Lufe como é prazeroso passar pelo teu buteco! Por mim ficava o dia todo só ouvindo os "causos".
ResponderExcluirQuanto à reza pode ter certeza que foi o ponto alto de hoje, melhor ainda seria imaginar que a filha estava adorando e o pai decidiu deixar de fora os zebus e as vacas pretas! Que danada ela não deve ter ficado! rsrsrsrs
Muitos bjs e até o próximo.
Pobreza, Lufe, existe no mundo todo! Mas eu choro é pela tristeza do meu país. Saí daí, mas sou brasileira de alma, corpo e coração. A América para mim é agora minha segunda pátria, respeito-a e estou aprendendo a admirá-la (aqui, há pobreza, mas há muito mais sentido de cidadania que aí, infelizmente)e ela, provavelmente, será a terra dos meus filhos (que, com certeza optarão por ficar aqui, quando forem maiores de idade).
ResponderExcluirMas o que me dói é o meu país, o BRASIL (o primeiro, minha raiz), saí muito tarde daí para esquecer e muito cedo para regressar.
Um abraço!
Suzana/LILY
Gisela,
ResponderExcluirTem uns pais que sempre aparecem na hora errada.
Nos namoricos de adolescente então....
E você reparou que ele começou a reza mais em baixo....é que pras "vaca louca" num tem cura...rsrs
bjim procê
Ah, esqueci de dizer, nasci no interior de Minas Gerais e lá vivi até os 14 anos. Fui alfabetizada em Teófilo Otoni e já mais velha, ia de carro para a Bahia, passando por toda a pobreza do norte de Minas e da Bahia...
ResponderExcluirE vi meu pai, durante décadas, tentando (e na maioria das vezes conseguindo) tirar leite de pedra para ajudar os necessitados.
Beijos, Lufe!
Lily,
ResponderExcluirAi a gente já entra na diferença de colonização, não é mesmo?
Para aí foram colonos em busca de novas terras ferteis, perseguidos por religião e etc.
Para aqui vieram os degredados e a filosofia extrativista e predatoria.
Forma-se um povo diferente. Por isso que eu acho que devemos nos bater pela educação, senso de cidadania, responsabilidade social.
Somos um pais aida novo, praticamente 200 anos, com a vinda de D. João. Ainda falta muito, não podemos esmorecer.
bjo
Lily
ResponderExcluirNão sabia que você era do norte de Minas. Você conhece bem essa região da qual estamos falando.
E você sabe que somente uma vontade politica forte, melhorará aquela situação.
Você foi para aí (America) numa epoca onde infelizmente não tem retorno. Quando seus filhos adquirirem autonomia, você preferencialmente vivera onde te respeitam, onde zelam por você.
O nosso pais ainda não esta preparado socialmente para a longevidade da sua população.
A sua nova patria lhe dá guarita e é claro, você deve respeita-la como se fosse sua de origem e certamente será a de seus filhos no futuro. A sua raiz nunca será esquecida, mas será cada vez mais uma lembrança, não é mesmo?
bjos
bjos
Lufe,
ResponderExcluirO Brasil nunca será lembrança para mim. Será para os meus filhos ou nem isso para o segundo filho que daí saiu com dezessete meses...
O Brasil está estampado em minha cara, na minha pronúncia, no meu andar, corre quente pelas minhas veias. É real.
Eu nasci em Caratinga, cidade próxima a Governador Valadares, mas nunca morei lá. Morei em várias cidades do interior de Minas, antes de chegar à capital e meus pais não me deram educação hipócrita. A verdade foi a mim apresentada bem cedo.
Sinto muito, Lufe, mas esse "papo" da colonização para mim é desculpa boa para boi dormir. Até quando usarão essa justificativa esfarrapada?
Um abraço!
Suzana/LILY
Suzana/LILY
ResponderExcluirDeixa eu tentar explicar o que eu penso a respeito, pois eu acho que não me fiz entender. Quando eu falo de diferença de colonização eu falo que os EEUA foram colonizados mais cedo e por colonos. Em mil setecentos e setenta e poucos eles se tornaram independentes e começaram a expansão, comprando a Luisiania da França, depois invadindo o Mexico e etc. Nesta época o Brasil não podia ter industria nem de tecido.Só o extrativismo predatorio era praticado aqui. Mais ou menos nesta epoca deu-se a Inconfidencia Mineira. Com a vinda de D joão é que se abriram as primeiras faculdades, fabricas, abriram-se os portos, a Biblioteca Nacional, enfim, começamos a virar país ali, a duzntos anos. A nossa independencia se deu a somente cem anos. Isso é muito pouco para uma nação. A nossa "revolução industrial" começou na decada de 50, quase cem anos apos Europa. Os sindicatos que ja eram fortes na America no começo do seculo 20 so vieram a se compor no Brasil apos 1960.
Quem deu inicio à formação do Estado Americano foram os colonos Ingleses, Franceses, Irlandeses,e depois os Italianos, Suecos, e etc. Os Europeus vieram para ca no inicio do seculo passado para substituir a mão de obra escrava e formaram bolsões isolados, se integrando somente apos os anos 50.
Eu considero que realmente é uma colonização diferente. As reivindicações de que foi de mudança, para colonizar uma nova terra,tornando-a sua nova patria é bem diferente de quem veio para explorar ou trabalhar em serviços de quase escravo.
Essa diferença, que eu estou falando talvez possa ser notada no seu pensamento como imigrante convicto, que foi para criar a familia ou aquele que vai para a America apenas em busca de dolares.e não pensa em se estruturar no novo pais que habita.
Eu não falo do pensamento que descendemos de gente ruim e ignorante e por isso somos iguais. Eu não penso assim. É uma teoria muito simplista e ótima para justificar atitudes espúrias.
Eu penso nas diferenças históricas, de épocas diferentes e que as coisas ocorreram por aqui com atraso e este atraso só poderá ser tirado com políticas publicas serias, coerentes e apartidárias.
Espero ter me feito entender, pois não busco desmerecer o nosso povo e nem o pais em que nasci e respeito, as vezes o que eu disse antes possa ter soado assim.
bjos
Lufe,
ResponderExcluirA brincar, a brincar, vai dizendo uma verdades.
Gostei do post!
Abraço
AC,
ResponderExcluirMesmo brincando a gente consegue levantar a atenção para a realidade que esta exposta como uma ferida aberta.Eu acho que sempre é hora de se falar de tudo, basta ter a oportunidade, e aqui a gente tem.
um grande abraço
Oi Lufe!
ResponderExcluirObservo muito isso por aqui. Marília é pólo regional em saúde, a cidade está sempre lotada de ônibus, peruas, vans, ambulâncias e tudo o mais, que trazem pacientes para os nossos hospitais. É triste, terrível, mas é verdade. É terrível por dois motivos, a população da cidade sofre com isso, e as pessoas que vêm de fora sofrem mais ainda... Passam o dia inteiro no hospital, sabe, seus acompanhantes sofrem com aquilo, é um desconforto total. Quem dera a saúde - de qualidade - chegasse aos lugares mais distantes, sempre! Quem dera.
Muito bom o post, adorei, como sempre!!!!!!!!
Beijos
Carla
Ai Lufe, que misto de tristeza e riso provocaste em mim! Esse buteco é tudo de bom! Minha sexta-feira começa bem.
ResponderExcluirBjoo
Carla,
ResponderExcluirInfelizmente, você pode observar isso atraves do seu trabalho, os politicos se utilizam das verbas publicas com objetivos paternalistas e eleitoreiros.Uma ambulancia, com o nome dele escrito na lateral, é um outdoor ambulante.
Ao invés de lutar por investimentos no setor e uma politica publica descentralizadora e eficaz eles apelam para o lado populista da coisa.
Muito dessa culpa é nossa, por te-los colocado lá e não cobrarmos posturas.
bjo
Mirinha,
ResponderExcluirA gente tenta chamar a atençao para o fato, de uma maneira mais leve.
infelizmente são situaçoes tragico/comicas e a gente não sabe realmente se ri ou chora...
bjo
Olá amigo!
ResponderExcluirGostei da sua postagem...mais uma fonte de cultura que descobri! penso que é a primeira vez que cá venho, vou seguir o seu blogue, gostei. Siga os meus também!
www.congulolundo.blogspot.com
www.queriaserselvagem.blogspot.com
www.minhaalmaempoemas.blogspot.com
www.angolaeseusfilhos.blogspot.com
www.inforvideo.blogspot.com
Um grande abração e até sempre
A maneira que nos passa os problemas que vivemos, torna muito mais "excitante" a vontade de conhce-los e concientizarmo-nos para que haja possibilidade de ação combatente.
ResponderExcluirmuito bom seu post..assim como todas os outros!
grande abraço!