Tela do artista plástico moçambicano Antero Machado.

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sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Papos de Buteco 56 - Degustação de vinho


O vinho possui uma longa história que remonta pelo menos a aproximadamente 6 000 a.C., pensando-se que tenha tido origem nos atuais territórios da Geórgia ou do Irã.
Nesse inverno, preparei uma surpresa para minha freguesia. Convidei um Sommelier, sujeito fino, elegante, profundo estudioso e conhecedor dos vinhos de todas as partes do mundo.
Os Sommeliers são seres mágicos e fantásticos. A sociedade não poderia viver sem eles. 
Alguns até dizem que a degustação de vinhos deveria fazer parte da Declaração Universal dos Direitos do Homem. Afinal de contas, todos deveriam conhecer um pouco desta técnica que é a degustação, para poder aproveitar o vinho em toda sua plenitude.
Afinal, distinguir entre um Cabernet-Sauvingnon safra 2006 e um Merlot safra 2007 é de um profundo interesse nacional. 
Preparei toda a logística com perfeição, seguindo suas orientações, colocando a disposição a agua mineiral natural e gasosa, os pães italianos e os cinco tipos distintos de vinhos: os vinhos tintos, os brancos, os rosés, os espumantes, e os vinhos fortificados. 
Em Portugal existe um tipo de vinho específico, o vinho verde, que pode ser tinto ou branco, mas devido à sua acentuada acidez pode ser considerado como uma categoria à parte.
Ele, com toda sua classe, num blaser e mocassins italianos, calça de flanela e lenço de seda no pescoço, começou sua explanação:
“- A degustação é o ato de examinar e avaliar o vinho. Eles podem ser classificados segundo o efeito que causam nas papilas gustativas. A doçura é determinada pela quantidade de açúcar residual do vinho após a fermentação.
É possível identificar sabores e aromas individuais graças ao complexo mix de moléculas que a uva e seu suco podem conter. A degustação pode identificar as características de uma uva específica como também os sabores que resultaram da fabricação e maturação do vinho, seja intencional ou não.
 Os mais típicos elementos de sabor que são intencionalmente introduzidos no vinho são aqueles presentes nos barris de carvalho: chocolate, baunilha, café, além de mato ou couro. Outras variedades de minerais também são absorvidas pelo vinho.
O vinho deve ser degustado no copo ou cálice específico colocando-se apenas uma quantidade suficiente para dois ou três goles. Uma vez aprovado ele pode ser servido até atingir o máximo de 1/3 da altura do copo. Esse procedimento faz com que os aromas se concentrem dentro do copo além de permitir apreciar as cores do vinho em todas as suas tonalidades........”

Nesse dia, eu chegou por aqui de surpresa, o Tio Tonho, mineirão da gema, daqueles de botina gomeira e calça pega frango.
Visita da família, eu não podia fazer desfeita.  
Tava ele lá no salão, com os olhinhos pregados naquela figura estranha, roupa afrescalhada, de falar afetado, nariz empinado e trejeitos estranhos.

O Sommelier termina a breve explanação e com toda tecnica desenvolvida, abre algumas garrafas, começa servir o vinho nas taças apropriadas e as entrega aos presentes para iniciar a cerimônia da degustação classica, que  é dividida em três fases: análise visual, análise olfativa e análise gustativa, nesta ordem obrigatoriamente.
Tio Tonho, é claro, pegou a sua. Só de olho no individuo......
Todos iniciaram a degustação seguindo à risca as instruções passadas pelo expert.
- Hummm...
- Hummm...
- Hummm...

E de repente:

- Eca!!!
- Eca?! Quem falou Eca? - disse o Sommelier!
- Fui eu, sô! O sinhô num acha que êsse vinho tá com um gostim estranho?
- Que é isso?! Ele lembra frutas secas adamascadas, com leve toque de trufas brancas, revelando um retrogosto persistente, mas sutil, que enevoa as papilas de lembranças tropicais atávicas...
- Potaqueopareu sô! E o sinhô cherô isso tudo aí no copo?!
- Claro! Sou um Sommelier laureado. E o senhor?
- Cebesta, eu não! Sou isso não sinhô!! Mas que isso aqui tá me cherano iguarzinho à minha egüinha Gertrudes adespois da chuva, lá isso tá!
- Ai, que heresia! Valei-me São Mouton Rothschild!
- O sinhô me descurpe, mas eu vi o sinhô sacudindo o copo e enfiando o narigão lá dentro. O sinhô tá gripado, é?
- Não, meu amigo, são técnicas internacionais de degustação entende? Caso queira, posso ser seu mestre na arte enológica. O senhor aprenderá como  segurar a garrafa, sacar a rolha, escolher a taça, deitar o vinho e, então...
- E intão moiá o biscoito, né? Tô fora, seu frutinha adamascada!
- O querido não entendeu. O que eu quero é introduzi-lo no...
- Mais num vai introduzi mais é nunca!  Desafasta, coisa ruim!
- Calma! O senhor precisa conhecer nossa forma de degustação. Hoje, por exemplo, vamos apreciar uns franceses jovens...
- Hã-hã... Eu sabia que tinha francês nessa história lazarenta...
- O senhor poderia começar com um Beaujolais!
- Num beijo lê, nem beijo lá! Eu sô é home, seu safardana!
- Então, que tal um mais encorpado?
- Óia lá, ocê tá brincano com fogo...
- Ou, então, um suave fresco!
- Seu moço, tome tento, que a minha mão já tá coçano de vontade de meter um tabefe nessa sua cara desavergonhada!
- Já sei: iniciemos com um brut, curto e duro. O senhor vai gostar!
- Num vô não, seu fio de um cão! Mas num vô, messs! Num é questão de tamanho e firmeza, não, seu fióte de brabuleta. Meu negócio é outro, qui inté rima com brabuleta...
- Então, vejamos, que tal um aveludado e escorregadio?
- E que tar a mão nos pédovido, hein, seu fióte de Belzebu?
- Pra que esse nervosismo todo? Já sei, o senhor prefere um duro e macio, acertei?
- Eu é qui vô acertá um tapão nas suas venta, cão sarnento! Engulidô de rôia!
- Mole e redondo, com bouquet forte?
- Agora, ocê pulô o corguim! E é um... e é dois... e é treis! Num corre, não, seu fidazunha!  Vorta aqui que eu te arrebento todo, sua bicha fedorenta.

E lá se foi toda a sofisticação que eu tinha preparado para aquela noite!
Mas tambem, botar o Tio Tonho pra degustar vinhos, só podia dar nisso!

Este dialogo entre O MINERIM E O DEGUSTADOR DE VINHO é erroneamente atribuído a Luiz Fernando Verissimo, sendo que é texto de autoria desconhecida
Imagem daqui: http://2.bp.blogspot.com

19 comentários:

  1. Ahahahahahaha, Excelente! Lufe,começar a sexta com um bom vinho e uma boa história, já é um bom sinal...

    A noite vou fazer o maridão ler, ele vai se acabar de rir... Aqui em casa gostamos muito de vinho, mas a temperatura não ajuda muito...

    Uma sexta especial p/ vc!

    Beijosssssssss

    Ah! Hoje temos umas paisagens de sertão na Jubiart, acho que vc vai gostar...

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  2. Tenho que contar essa história para alguns amigos cheios de regras para a apreciação de um vinho...Muito divertido.Não leva mais o tal tio Tonho,qualquer dia ele se mete numa baita briga.
    Bom final de semana para vc Lufe.abraços

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  3. Um aveludado e escorregadio me gusta, pra começar! \o/

    Ri às pampas, Lufe.

    Beijo grande.

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  4. Bia,

    Gostar do vinho é sempre muito bom, mas frescura demais até atrapalha o sabor....rsrs

    Adorei conhecer a vegetação do seu cantinho. É bem o cenário do Guima mesmo!

    Seu projeto é fantástico, mantenha sempre uma informação do andamento pra gente acompanhar....

    bjo

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  5. Eva,

    Eu sempre disse que apreciar é uma coisa, apreciar com performance para a platéia é outra.
    Tem uns que se você colocar um Chapinha numa garrafa de Cabernet é capaz de elogiar a noite inteira o bouquet.....rsrs

    bjo

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  6. Luna,

    Quando comentei o seu ultimo post da Série Bobagens ao.......eu comentei da nossa falta de habito com o vinho e isso me lembrou desse “causo” na mesma hora.....eu tinha que postar......rsrs

    Ah, porque quase ninguém gosta do brut curto, mesmo que demonstre dureza? É coisa pra expert mesmo, né?

    Bjoca procê

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  7. kkkkkk
    Eu gosto de vinho, em geral seco, mas concordo com Tio Tonho vão se frescô lá em riba da serra, só!
    bjs
    Jussara

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  8. Jussara,

    Você sabe que esse povo(Tio Tonho) raras vezes se engana ao avaliar as pessoas....rsrs

    bjo

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  9. Vim lhe fazer uma visita. Seu blog é maravilhoso, Parabéns! E também lhe convidar para conhecer meu blog.
    Que Deus lhe abençoe Sempre!
    Vera

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  10. Adorei o vocabulário do Tio Tonho! Realmente este Brasil é incrível.
    E a lembrança do Veríssimo me leva ao Analista de Bagé, com um vocabulário peculiar, mas com o mesmo espírito.
    Um grande bj querido amigo

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  11. Vera,

    Obrigado pelos elogios.
    Seja bem vinda.

    Vou lá conhecer.....

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  12. Gisa,

    Eu tambem adoro esses regionalismos eles é que são a alma de nosso povo.

    Um grande beijo

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  13. hahhahhah "eu sabia que tinha uma francÊs nessa história lazarenta" hahhahahha

    Eu amo vinho sinceramente. Mas não sou uma boa conhecedora aliás preciso ler mais sobre e ando lendo...

    Acho que Tio Tonho me iria bem ao levar na casa de uma amigo chatoooooooo pra cct...

    ele me lembrou o Oscarito...

    ahahhah eu ri muito Lufe

    Bjo

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  14. Bom amanhecer Lufe!

    Aqui me divirto até com os comentários...

    Retornei só para falar um pouco da minha localização, não sou muito boa em geografia, estou mais p/ me perder do que me achar rs. Mas vamos lá: Tocantinópolis é o extremo Norte do Estado do Tocantins, divisa com o Maranhão, o rio Tocantins divide os dois Estados, moro de frente p/ o rio, do Outro lado já vejo Porto-Franco - MA, aqui para atravessar ainda não temos ponte, temos balsas. Estou situada na maior zona de transição do país que é Amazônia e Cerrado, e a aqui também se encontra a maior área de cocais do país.
    A diversidade para pesquisa é imensa! Existem cascas no cerrado que nunca foram catalogadas, eu e maridão temos paixão pelo tema e pesquisamos com auto didatas, apesar extrativismo/sustentabilidade estar ligado ao meu trabalho, fazemos tudo por puro prazer!

    Hoje mesmo estaremos saindo cedo para Itaguatins - TO, para coletar cascas( época que elas abrem e secam), e apreciar a outra face do Rio Tocantins...

    Um ótimo fim de semana p/ vc e família!

    Ternurassss

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  15. "Não se deve julgar um livro pela capa", certo?

    Pois eu acho justo que se adapte o ditado-lição aos...aos...vinhos, ué.

    ;)

    Beijo.

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  16. Ju,

    Os vinhos, realmente são uma dadiva.
    Dureza é aguentar o “connaisseur”, quase sempre pernóstico....rsrs

    bjo

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  17. Bia,

    Voce tem o privilegio do trabalho e do gostar, envolvida nessa natureza impar, diversa que muito nos tem ainda a ensinar.
    Parabens pelo seu trabalho.

    bjo

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  18. Alexandre,

    Eu não consigo entender uma pessoa escrever um texto e creditar a outro...
    Acontece muito com o Verissimo e com o Jabour dentre outros.
    Eles veementemente recusam a autoria.
    Vá entender, né?

    abraços

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  19. Luna,

    Não dizem também que “ao melhores perfumes estão nos menores frascos”?
    Se bem que parece não se aplicar nesse caso, neam?....rs

    bjocas

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