Tela do artista plástico moçambicano Antero Machado.

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sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Drummond erótico 4


Neste poema Drummond funde em um só, o amor etério, platonico com o amor terreno, carnal:



Amor, pois que é palavra essencial     

Amor - pois que é palavra essencial
comece esta canção e toda a envolva.
Amor guie o meu verso, e enquanto o guia,
reúna alma e desejo, membro e vulva.

Quem ousará dizer que ele é só alma?

Quem não sente no corpo a alma expandir-se
até desabrochar em puro grito
de orgasmo, num instante de infinito?

O corpo noutro corpo entrelaçado,

fundido, dissolvido, volta à origem
dos seres, que Platão viu completados:
é um, perfeito em dois; são dois em um.

Integração na cama ou já no cosmo?

Onde termina o quarto e chega aos astros?
Que força em nossos flancos nos transporta
a essa extrema região, etérea, eterna?

Ao delicioso toque do clitóris,

já tudo se transforma, num relâmpago.
Em pequenino ponto desse corpo,
a fonte, o fogo, o mel se concentraram.

Vai a penetração rompendo nuvens

e devassando sóis tão fulgurantes
que nunca a vista humana os suportara,
mas, varado de luz, o coito segue.

E prossegue e se espraia de tal sorte

que, além de nós, além da prórpia vida,
como ativa abstração que se faz carne,
a idéia de gozar está gozando.

E num sofrer de gozo entre palavras,

menos que isto, sons, arquejos, ais,
um só espasmo em nós atinge o climax:
é quando o amor morre de amor, divino.

Quantas vezes morremos um no outro,

no úmido subterrâneo da vagina,
nessa morte mais suave do que o sono:
a pausa dos sentidos, satisfeita.

Então a paz se instaura. A paz dos deuses,

estendidos na cama, qual estátuas
vestidas de suor, agradecendo
o que a um deus acrescenta o amor terrestre.

Carlos Drummond de Andrade
Imagem capturada na internet

15 comentários:

  1. Deixei um comentário anterior após o meu texto. Repito aqui meu agradecimento e tomo a liberdade de sugerir uma visita ao nosso site, Escritoras Suicidas (www.escritorassuicidas.com.br). Grande abraço da Ro

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  2. Ro,
    Que grande prazer e que surpresa você ter aparecido por aqui.
    Li o seu comentario e fiquei muito lisonjeado.
    Te conheço atraves dos seus textos e não sei se reparou, eu tambem já havia postado "O Presente".
    Gosto muito do que escreve.
    Continuarei a acompanha-la pelo site de vocês.
    Volte sempre, você agrega qualidade à frequencia do meu buteco.
    bjo

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  3. Você e Drummond estão me deixando bem acostumado, hahahahaha!
    Um grande dia, amigo butequeiro e dos bons!

    Abraços.

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  4. Guará,
    É bom ler estes poemas pela manhã
    Principalmente se nos trazem lembranças recentes.
    Mantem a pilha carregada...
    abço.

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  5. Lufe, queridão!!

    Como não deu pra passar de manhã, venho no final da tarde mesmo.
    Eu adoro esse buteco.
    Aqui a gente ri, a gente tem agenda cultural, a gente tem orgasmos (literários, óóóbvio hehehe), enfins.

    Mas tem uma frase ai do querido Drummond que me pegou pelos pés (mãos, e todos os orgãos):


    Quem ousará dizer que ele é só alma?
    Quem não sente no corpo a alma expandir-se
    até desabrochar em puro grito
    de orgasmo, num instante de infinito?


    Que grande verdade isso...e que L-I-N-D-O..

    Quem ousará dizer que ele é só alma?
    Quem Lufe???

    Beijooooooooooooo (s) pra ti!!!

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  6. Obg pela força, pelo carinho, pelas visitas...aqui estou na sua casa, passnado rapidinho, voltarei esse fim de semana, colocarei uma poltrona e passarei uma manhã/tarde nesse buteco bebendo sua sensibilidade...
    Abçs!

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  7. Sil,
    Que bom que aprova meu cardápio..
    De vez em quando, sai uma sopinha de letras....rsrs
    bjo, querida.

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  8. Frank,
    Ainda bem que o retorno foi rapidinho.
    O contato frequente,apesar de ser por recadinhos, a leitura dos textos, a companhia em que anda, os comentarios que faz, isso tudo nos leva a conhecer e mostrar um pouquinho de cada um de nós.
    Isso cria uma relação que vai se afunilando por interesses comuns, pela pessoa e pelo dom da escrita, pelo humor, pela ironia,pelas duvidas, inseguranças, apoio, luz, pelas alegrias e porque não até pelo sofrimento.
    Todos nos tornamos irmãos virtuais( e bem reais)
    Onde tiver uma plaquinha de "reservado" pode sentar, a mesa é sua.
    abço

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  9. Esse tornar-se um tem um que de divino, o amor carnal nos dá uma sensação de paz e algo que nos aproxima do céu...Que nos torna mais humanos,mais completos...
    Beijoss

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  10. "... é quando o amor morre de amor, divino."

    Se é pra morrer, que seja de amor!!!!
    Um beijo Lufe.

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  11. Flor,
    Para Platão o corpo era dissociado da alma.
    Ele dizia que o corpo disvirtuava a alma e a levava ao erro e ao enfraquecimento.
    Seu pensamento negava esta dicotomia corpo/alma.
    Para negar isso, acho que Platão só teve amor platonico, ele pensava demais, não sentia....rs
    bjo

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  12. Lu,
    Será que a expressão "morrer de amor" surgiu pela sensação de leveza, de transcendencia, de cpmpleta satisfação que sentimos apos a comunhão de corpos com a pessoa amada? Será?...
    bjo Lu

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  13. Para mim, o Drummond se revelou ter sido muito bom de cama!

    Um abraço!

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  14. Não é à toa que em Francês o Orgasmo é chamado de "Le petit mort" ... :)

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  15. é... o omi sabe o que diz, né messs?
    "...agradecendo
    o que a um deus acrescenta o amor terrestre."
    Gostei dimaissss da conta!
    Dizem que no momento do orgasmo, o ser humano toca a divindade, conseguindo a sensação de completude que ele busca por toda a vida.
    Uauuu! Eu acho que é verdade!
    Beijos, Lufe

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