Tela do artista plástico moçambicano Antero Machado.

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sexta-feira, 29 de junho de 2012

A DESPEDIDA DO TREMA



Recebi esta por e-mail de um amigo e ele me disse não saber o autor. Nem ele e nem eu. Repasso como o recebi, pois achei delicioso. Quem souber o autor, me diga, pois terei o maior prazer em dar os creditos. Por enquanto quem assina é o Trema.

Adendo: Logo no primeiro comentario tive a surpresa de receber o autor do texto afirmando sua autoria. Muito legal! Dando então os creditos a Lucas Nascimento da Silva e vocês podem ver o texto aqui onde poderão ler tambem outros escritos dele. Muito bom! Parabens a ele pelo texto inteligente!

Estou indo embora. Não há mais lugar para mim.
Eu sou o trema.
Você pode nunca ter reparado em mim, mas eu estava sempre ali, na Anhangüera, nos aqüiféros, nas lingüiças e seus trocadilhos por mais de quatrocentos e cinqüenta anos.
Mas os tempos mudaram. Inventaram uma tal de reforma ortográfica e eu simplesmente tô fora. Fui expulso pra sempre do dicionário. Seus ingratos!
Isso é uma delinqüência de lingüistas grandiloqüentes!...
O resto dos pontos e o alfabeto não me deram o menor apoio...
A letra U se disse aliviada porque vou finalmente sair de cima dela.
Os dois pontos disseram que eu sou um preguiçoso que trabalha deitado enquanto ele fica em pé.  Até o cedilha foi a favor da minha expulsão, aquele C cagão que fica se passando por S e nunca tem coragem de iniciar uma palavra.
E também tem aquele obeso do O e o anoréxico do I.
Desesperado, tentei chamar o ponto final pra trabalharmos juntos, fazendo um bico de reticências, mas ele negou, sempre encerrando logo todas as discussões. Será que se deixar um topete moicano posso me passar por aspas?...
A verdade é que estou fora de moda. Quem está na moda são os estrangeiros, é o K, o W "Kkk" pra cá, "www" pra lá.
Até o jogo da velha, que ninguém nunca ligou, virou celebridade nesse tal de Twitter, que aliás, deveria se chamar TÜITER.
Chega de argüição, mas estejam certos, seus moderninhos: haverá conseqüências!
Chega de piadinhas dizendo que estou "tremendo" de medo.
Tudo bem, vou-me embora da língua portuguesa. Foi bom enquanto durou.
Vou para o alemão, lá eles adoram os tremas.
E um dia vocês sentirão saudades.
E não vão agüentar!..
Nos vemos nos livros antigos.
Saio da língua para entrar na história.
Adeus,

                                                                   Trema



5 comentários:

  1. O Autor é Lucas Nascimento da Silva: http://oblogk.wordpress.com/2010/05/05/a-despedida-do-trema/

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  2. Adoro esse texto! Às vezes me sinto como o trema, meio ultrapassada e sumindo, só vou ficar nos livros velhos e serei uma extravagância linguística.
    bjs
    Jussara

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  3. Lufe, eu considero uma perda danada essa viu? Eu que ensinei a vida toda e exigia os dois pinguinhos em cima do u e repassei todas as regras do hífen, me deparo agora na ignorância e sem vontade de desaprender [estou velha pra isso] e quase pra aposentar, então dane-se!
    Não sei se fica pra história, já que a língua vernácula é a própria história e infelizmente a memória dela é curta.
    o texto é ótimo mesmo.
    Escrevi sobre isso e3 se quiser pode dar uma olhada:
    http://palavrasaobelprazer.blogspot.com.br/2011/08/desaprendendo-para-acertar-esse-texto-e.html
    bjks dcs

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  4. Oi, Lufe. Ler esse inteligente texto me fez pensar em quantas vezes nas nossas vidas somos tratados como tremas, descartados de uma hora para outra como se simplesmente tivéssemos perdido a utilidade. O trema está certo: não se conformar com sua posição e buscar para si uma nova utilidade com certeza o farão entrar para a história! Um abraço!

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